terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Revisiting

É brega, mas é divertido.

Your love (O seu amor)
- The Outfields -

Josie's on a vacation far away (Josie está bem longe, de férias)
Come around and talk it over (Venha cá* e fale sobre isso de novo)
So many things that I wanna say (Tantas coisas que quero dizer)
You know I like my girls a little bit older (Você sabe que gosto de que minhas garotas sejam um pouquinho mais velhas)
I just wanna use your love tonight (Só quero usar o seu amor esta noite)
I don't wanna lose your love tonight (Não quero perder o seu amor esta noite)
I ain't got many friends left to talk to (Não me restam muitos amigos com quem conversar)
No one's around when I'm in trouble (Ninguém está por perto quando estou com problemas)
You know I'd do anything for you (Você sabe que eu faria qualquer coisa por você)
Stay the night but keep it undercover (Passe a noite aqui, mas mantenha isso em segredo)
I just wanna use your love tonight (Só quero usar o seu amor esta noite)
I don't wanna lose your love tonight (Não quero perder o seu amor esta noite)
Trying to stop my hands from shakin' (Tentando fazer as minhas mãos pararem de tremer)
Somethin' in my mind's not makin' sense (Algo em minha mente não está fazendo sentido)
It's been a while since we were all alone (Faz um tempinho desde a última vez em que ficamos a sós)
I can't hide the way I'm feelin' (Não consigo esconder como estou me sentindo)
As you leave me, please, would you close the door? (Ao me deixar, por favor, você fecha a porta?)
And don't forget what I told you (E não se esqueça do que eu lhe disse)
Just 'cause you're right, that don't mean I'm wrong (Só porque você está certa, isso não significa que eu esteja errado)
Another shoulder to cry upon (Outro ombro pra chorar)
I just wanna use your love tonight, yeah (Só quero usar o seu amor esta noite)
I don't wanna lose your love tonight, yeah (Não quero perder o seu amor esta noite)
I just wanna use your love tonight (Só quero usar o seu amor esta noite)
I don't wanna lose your love tonight (Não quero perder o seu amor esta noite)
I just wanna use your love tonight (Só quero usar o seu amor esta noite)
I don't wanna lose your love tonight (Não quero perder o seu amor esta noite)
Lose your love, lose your love...
(Perder o seu amor, perder o seu amor...)

* “come around” pode ser também algo como “mude de idéia”, entre outras coisas, e “revisit” é, obviamente, algo como “revisitar”

Nem adianta querer culpar o quase-jejum.

(a de “The final countdown” fica pra próxima)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Reticências

“vai pro quarto, filha” e eu vou, só pra levantar quarenta minutos depois, a língua sabendo a ruffles e uma ânsia como a última do vinho, desta vez o motivo não é alcoolismo e nem o era da outra, clichê no lugar de calúnia, “a gente que bebe e você que passa mal”, erva-doce na falta de boldo, duas canecas e dois sets, o terceiro meu estômago não agüenta, enquanto ela conserta mais duas peças eu quase estrago meia bandeja de risoles, o almoço preenche o vazio da barriga e do relógio, volto carregada de primeira carona pra casa, “deixa que eu levo e lavo esses edredons”, cada uma de nós com suas respectivas aspirações, desculpa esfarrapada essa minha das preliminares, mais uma página desse prefácio repleto de ponto-e-vírgulas, e logo a pança da minha cachorrinha punk estará repleta de larvas de varejeira, até que enfim uma visita há muito devida ao veterinário, há de se tirar o atraso, só me toca na cobertura do carnaval local a simplicidade dessa gente toda, e toco teu rosto teimoso num contato inédito, ontem adiantou e hoje

(repeat) (...) Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir. (...) Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. (...)
(mais uma vez os créditos vão ao Pessoa e/ou ao Soares)

domingo, 26 de fevereiro de 2006

II

(na cama)

– Pensei que cê não tava em casa.
– Tava com preguiça de atender.
– Achei que era você ligando pra falar alguma coisa.

(na mesa)

– Divide esse mamão comigo.
– Não gosto de mamão, caramba.
– Como você é chata.

(na cama)

– Tem um CD que você vai gostar.
– Mas quero ouvir este.
– Caramba, você gostou mesmo, hein?

(na mesa)

– A minha ficou meio seca.
– Pega um pedaço da minha.
– É, a sua tá melhor.

(entre os quartos)

– Vontade de saber dançar.
– Por que cê não volta a fazer aula?
– Com quem?

(entre o banheiro e a sala)

– Queria tanto que você fosse.
– Tenho que estudar.
– Chata.

25-12-1929 Depois que os últimos pingos da chuva começaram a tardar na queda dos telhados, e pelo centro pedrado da rua o azul do céu começou a espelhar-se lentamente, o som dos veículos tomou outro canto, mais alto e alegre, e ouviu-se o abrir de janelas contra o desesquecimento do sol. Então pela rua estreita, do fundo da esquina próxima, rompeu o convite alto do primeiro cauteleiro, e os pregos pregados nos caixotes da loja fronteira reverberaram pelo espaço claro.

Era um feriado incerto, legal e que se não mantinha. Havia sossego e trabalho conjuntos, e eu não tinha que fazer. Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir. Passeava de um lado ao outro do quarto e sonhava alto coisas sem nexo nem possibilidade – gestos que me esquecera de fazer, ambições impossíveis realizadas sem rumo, conversas firmes e contínuas que, se fossem, teriam sido. E neste devaneio sem grandeza nem calma, neste atardar sem esperança nem fim, gastavam meus passos a manhã livre, e as minhas palavras altas, ditas baixo, soavam múltiplas no claustro do meu simples isolamento.

A minha figura humana, se a considerava com uma atenção externa, era do ridículo que tudo quanto é humano assume sempre que é íntimo. Vestira, sobre os trajes simples do sono abandonado, um sobretudo velho, que me serve para estas vigílias matutinas. Os meus chinelos velhos estavam rotos, principalmente o do pé esquerdo. E, com as mãos nos bolsos do casaco póstumo, eu fazia a avenida do meu quarto curto em passos largos e decididos, cumprindo com o devaneio inútil um sonho igual aos de toda a gente.

Ainda, pela frescura aberta da minha janela única, se ouviam cair dos telhados os pingos grossos da acumulação da chuva ida. Ainda vagos, havia frescores de haver chovido. O céu, porém, era de um azul conquistador, e as nuvens que restavam da chuva derrotada ou cansada, cediam, retirando para sobre os lados do Castelo, os caminhos legítimos do céu todo.

Era a ocasião de estar alegre. Mas pesava-me qualquer coisa, uma ânsia desconhecida, um desejo sem definição, nem até reles. Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. E, quando me debrucei da janela altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la, senti-me de repente um daqueles trapos húmidos de limpar coisas sujas, que se levam para a janela para secar, mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito que mancham lentamente.


(na mesa)

– A gente dançou tanto.
– É bom.
– Cê devia ter ido.

(ainda na mesa)

– Pode desligar?
– Pode não, deve.
– Não vai dormir muito tarde.

concentração perdida, deixo o sujeito pra amanhã, preciso de um banho urgente, isso são horas de a descarga disparar, mãe também é pra essas coisas, só falta aquela barata vir me atacar aqui no meio da sala

(créditos: Bernardo Soares ou Fernando Pessoa, a escolher – sim português de Portugal, por isso o “húmidos”)

sábado, 25 de fevereiro de 2006

Bendito ou maldito - seja

um realismo inaudito em mim e separo quase que somente o estritamente necessário, material para apenas uma das monografias, quatro dvds, quatro cds, meia-dúzia de roupas, nécessaire cheia, sombrinha e garrafa d’água, me amaldiçôo mesmo assim pela demora que significa horário de pico, mas os ônibus estão surpreendentemente quase que vazios, um motivo ao menos para eu abençoar o carnaval, a maldição me sobe novamente à garganta por eu ser obrigada a tolerar esse tipo de comportamento, mas estou realmente com sorte e saio de um para entrar imediatamente no outro, que importa se uns restos vão junto, tenho os olhos e a mente presos no meu ponto final, uma vira-latinha tenta se decidir entre ser simpática ou invocada comigo, minha mãe me recebe com sorrisos e boleros e é a segunda boa surpresa do dia, astérix e obélix contra césar já não é grande coisa e fica menor ainda quando visto em português, deixo meu egoísmo e meus interesses lingüísticos de lado para confraternizar com os dois, acho que a história não me teria rendido boas citações mesmo, e que falta do que fazer é fechar o dia vendo gaviões da fiel e rosas de ouro na tv, pelo menos teve aquele trabalho interessante com o aleijadinho, povo de mau gosto que dá só oito e alguma coisa pra arte e nove e alguma coisa pra futebol

La barca – Roberto Cantoral por Luis Miguel – Dicen que la distancia es el olvido / Pero yo no concibo esa razón / Porque yo seguiré siendo el cautivo / De los caprichos de tu corazón / Supiste esclarecer mis pensamientos / Me diste la verdad que yo soñé / Ahuyentaste de mí los sufrimientos / En la primera noche que te amé / Hoy mi playa se viste de amargura / Porque tu barca tiene que partir / A cruzar otros mares de locura / Cuida que no naufrague en tu vivir / Cuando la luz del sol se esté apagando / Y te sientas cansada de vagar / Piensa que yo por ti estaré esperando / Hasta que tú decidas regresar / Supiste esclarecer mis pensamientos / Me diste la verdad que yo soñé / Ahuyentaste de mí los sufrimientos / En la primera noche que te amé / Hoy mi playa se viste de amargura / Porque tu barca tiene que partir / A cruzar otros mares de locura / Cuida que no naufrague en tu vivir / Cuando la luz del sol se esté apagando / Y te sientas cansada de vagar / Piensa que yo por ti estaré esperando / Hasta que tú decidas regresar

(tradução: não há, porque é bastante clara)
(explicação: deve haver, porque nem curto muito Luis Miguel e a novela com o casalzinho Raia-Celulari me deixou com birra, bendito seja o espanhol)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

In bloom

velha sensação de déjà-vu, meio office-girl, meio autômata:

banco, xerox (eu disse que a piadinha tinha sido reprimida), correio

pedra nova no meio do caminho, tão cara, tão preciosa:

livraria (mas por que será que o Groβwörterbuch está tudo isso?)

gravidade da força, um vazio puxa o outro:

What are you going to do this holiday?

imensurabilidade do peso, um apesar:

the heart is a bloom shoots up through the stony ground there's no room no space to rent in this town you're out of luck and the reason that you had to care the traffic is stuck and you're not moving anywhere you thought you'd found a friend to take you out of this place someone you could lend a hand in return for grace it's a beautiful day sky falls you feel like it's a beautiful day don't let it get away you're on the road but you've got no destination you're in the mud in the maze of her imagination you love this town even if that doesn't ring true you've been all over and it's been all over you it's a beautiful day don't let it get away it's a beautiful day touch me take me to that other place teach me I know I'm not a hopeless case see the world in green and blue see China right in front of you see the canyons broken by cloud see the tuna fleets clearing the sea out see the Bedouin fires at night see the oil fields at first light and see the bird with a leaf in her mouth after the flood all the colors came out it was a beautiful day don't let it get away beautiful day touch me take me to that other place reach me I know I'm not a hopeless case what you don't have you don't need it now what you don't know you can feel it somehow what you don't have you don't need it now don't need it now was a beautiful day

[o coração é um florescer desponta através do chão de pedra não há quarto não há espaço pra alugar nesta cidade você está sem sorte e sem* a razão que tinha para se importar o trânsito está engarrafado e você não está se movendo pra lugar nenhum você pensou que tivesse encontrado um amigo pra tirá-lo deste lugar alguém a quem você poderia dar uma mãozinha em troca de graça é um belo dia o céu desaba você se sente como se fosse um belo dia não o deixe escapar você está na estrada mas não tem destino você está na lama no labirinto da imaginação dela você ama esta cidade ainda que isso não soe verdadeiro você a conhece toda e ela o conhece todo é um belo dia não o deixe escapar é um belo dia me toque me leve para aquele outro lugar me ensine sei que não sou um caso perdido veja o mundo em verde e azul veja a China bem diante de você veja os desfiladeiros entrecortados por nuvens veja as frotas de atum desimpedindo o mar veja as fogueiras dos beduínos à noite veja os campos petrolíferos à primeira luz e veja o pássaro com uma folha na boca depois do dilúvio todas as cores surgiram foi um belo dia não o deixe escapar belo dia me toque me leve para aquele outro lugar me alcance sei que não sou um caso perdido você não precisa agora daquilo que você não tem você pode sentir de algum modo aquilo que você não sabe você não precisa agora daquilo que você não tem não precisa agora foi um belo dia]

* dúvida, aceito sugestões (e “in bloom”, além do título deste post e de uma canção do Nirvana, é aquele período em que as plantas que dão flor florescem)
(créditos: U2)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

O sol sobre Sofia

não sei pra que me arrumar com tanto esmero, óleo de banho, lentes de contato, lápis e rímel, vinho na saia cigana, preto na blusinha, cabelos propositalmente despenteados and I feel good in my own sandals, deve ser pra compensar o desastre de ontem, mas, gata encharcada, uso aquela sombrinha como disfarce, chamo a Clarice pra me acompanhar, companhia agradabilíssima na certa, apesar da melancolia na voz, dividimos um banco no ônibus, não me importo de levá-la no colo, quem adivinharia a leveza de tanto peso, mais uma vez tropeço na má-educação alheia, qué me importa si toma la España y toda la Hispanoamérica, ich stehe in Deutschland und kann nach der Schweiz, nach Liechtenstein oder nach Österreich gehen, felizmente bem longe de você, que já passou por essa região quando eu ainda estava por lá, sorte que nunca tivemos que tolerar a presença uma da outra por muito tempo, não mais do que algumas baldeações no metrô, de você eu faria questão de me sentar bem longe, duvido que o seu peso não seja de esmagar, mas já sei por que as mordidas da Clarice não me dóem, apesar de doerem tanto, é aquele jeito só dela de assoprar, um sopro de verdade e vida no meu ouvido e me arrepio toda, embora não escute muito bem, e é por isso que não posso me atrasar, audiometria e mais uns exames de nome estranho às três e meia, até parece que só marquei horário com pessoas desagradáveis hoje, sorte que o espanhol foi excepcionalmente produtivo, me llamo Matilde Fernández Aragón, soy espía y vivo en La Habana, desisti de ser dançarina de tango já há quase dois anos e também Buenos Aires nem estava na lista, ser guia turística em Santiago de Compostela deve ser divertido também, e que coincidência sermos quase vizinhos e podermos ter sido vizinhos de fato um ano atrás, sério, a gente ou não conseguia dormir ou acordava no meio da madrugada, tanto motel por aí e essa mulher sem noção, a gente ri, mas é constrangedor, tomara que a Cris encontre alguma utilidade pra tanta tralha, abraço apertado de saudades

Mas ainda não divisara o fim sombreado do parque, e meus passos foram se tornando mais vagarosos, excessivamente cansados. Eu não podia mais. Talvez por cansaço, mas eu sucumbia. Eram passos cada vez mais lentos e a folhagem das árvores se balançava lenta. Eram passos um pouco deslumbrados. Em hesitação fui parando, as árvores rodavam altas. É que uma doçura toda estranha fatigava meu coração. Intimidada, eu hesitava. Estava sozinha na relva, mal em pé, sem nenhum apoio, a mão no peito cansado como a de uma virgem anunciada. E de cansaço abaixando àquela suavidade primeira uma cabeça finalmente humilde que de muito longe talvez lembrasse a de uma mulher. A copa das árvores se balançava para a frente, para trás. “Você é uma menina muito engraçada, você é uma doidinha”, dissera ele. Era como um amor.

Não, eu não era engraçada. Sem nem ao menos saber, eu era muito séria. Não, eu não era doidinha, a realidade era o meu destino, e era o que em mim doía nos outros. E, por Deus, eu não era um tesouro. Mas se eu antes já havia descoberto em mim todo o ávido veneno com que se nasce e com que se rói a vida – só naquele instante de mel e flores descobria de que modo eu curava: quem me amasse, assim eu teria curado quem sofresse de mim. Eu era a escura ignorância com suas fomes e risos, com as pequenas mortes alimentando a minha vida inevitável – que podia eu fazer? eu já sabia que eu era inevitável. Mas se eu não prestava, eu fora tudo o que aquele homem tivera naquele momento. Pelo menos uma vez ele teria que amar, e sem ser a ninguém – através de alguém. E só eu estivera ali. Se bem que esta fosse a sua única vantagem: tendo apenas a mim, e obrigado a iniciar-se amando o ruim, ele começara pelo que poucos chegavam a alcançar. Seria fácil demais querer o limpo; inalcançável pelo amor era o feio, amar o impuro era a nossa mais profunda nostalgia. Através de mim, a difícil de se amar, ele recebera, com grande caridade por si mesmo, aquilo de que somos feitos. Entendia eu tudo isso? Não. E não sei o que na hora entendi. Mas assim como por um instante no professor eu vira com aterrorizado fascínio o mundo – e mesmo agora ainda não sei o que vi, só que para sempre e em um segundo eu vi – assim eu nos entendi, e nunca saberei o que entendi. Nunca saberei o que eu entendo. O que quer que eu tenha entendido no parque foi, com um choque de doçura, entendido pela minha ignorância. Ignorância que ali em pé – numa solidão sem dor, não menor que a das árvores – eu recuperava inteira, a ignorância e a sua verdade incompreensível. Ali estava eu, a menina esperta demais, e eis que tudo o que em mim não prestava servia a Deus e aos homens. Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro.

Como uma virgem anunciada, sim. Por ele me ter permitido que eu o fizesse enfim sorrir, por isso ele me anunciara. Ele acabara de me transformar em mais do que o rei da Criação: fizera de mim a mulher do rei da Criação. Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto – uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.

... E foi assim que no grande parque do colégio lentamente comecei a aprender a ser amada, suportando o sacrifício de não merecer, apenas para suavizar a dor de quem não ama. Não, esse foi somente um dos motivos. É que os outros fazem outras histórias. Em algumas foi de meu coração que outras garras cheias de duro amor arrancaram a flecha farpada, e sem nojo de meu grito.


[traduções: 01. e me sinto bem nas minhas próprias sandálias – trocadilho, difícil de traduzir, com a expressão “in one’s own shoes”, nos seus próprios sapatos, ao pé da letra, na sua própria pele, como dizemos de fato; 02. que me importa se você toma a Espanha e toda a América Hispânica, eu fico na Alemanha e posso ir para a Suíça, para Liechtenstein ou para a Áustria; 03. me chamo Matilde Fernández Aragón, sou espiã e moro em Havana – óbvio, um dos motivos pelos quais não gosto de traduzir espanhol aqui, que coisa]
(créditos do texto realmente literário: Clarice Lispector, A Inevitável)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Quarta-feira de cinzas

escolho tentar me redimir ao invés de ir dormir, me espanto com a rapidez da resposta, quem dera fosse sempre assim, a vigília prolongada não parece impedir trabalhos essencialmente mecânicos como recortar e colar, falando em resposta, já passou da hora de mandar um sinal, e a tanta gente, mas hoje o dia é dela, da nossa mariazinha, “ainda não foi dormir, filha?”, “preciso enviar este pacote e escrever pra Beatriz”, banco antes do correio, sem os dados não dá, ainda bem que minha mãe conhece a filha que tem, voltar ao banco e enfrentar quarenta e cinco minutos de fila, como existe gente cara-de-pau neste mundo, da próxima vez digo que estou grávida, grávida de dois meses e, se alguém chiar, ainda digo que preciso sacar a grana justamente pra fazer um aborto, outro banco e estou mesmo sem sorte, conferir saldo de volta no primeiro, esperar a chuva que surgiu do nada passar, então

que esperar, que nada, se eu tinha duas bolsas, uma preta e uma vermelha, e estou só com uma nas mãos, quer dizer que a outra tem que estar em algum dos lugares pelos quais passei, maldição, ainda bem que o outro banco é pertinho, mas vá dizer a alguém correndo debaixo de uma pancada forte de chuva que algum lugar é perto, umas duas quadras e uns dois minutos e parece que sobrevivi a uma tempestade, castigo pelos meus pecados ou oferta-relâmpago de redenção, que seja, é bom lavar a alma de vez em quando, não chego a tocar a porta quando ela se abre e ouço um “uma bolsinha vermelha, não é?”, o alívio escorre pelo meu corpo, “acabei de entregar para o guarda ali, mas você não vai mais encontrar os vinte mil dólares que tinha nela, não”, sorrio ao imaginar a frustração de quem procurasse dinheiro naquela nécessaire da Casa Hope, protetor solar fator 45 para o corpo, hidratante oil free com protetor solar fator 30 para o rosto, sabonete Clean & Clear, adstringente Clean & Clear, um creme anti-acne qualquer, uma água-de-colônia também qualquer, camisetinha preta, calcinha branca, tanta coisa que mais parece a bolsa da Mary Poppins, “boa chuva pra você”, “quem sai na chuva, é pra se molhar”

o caminho até a banca de jornal é pouco, mas os olhares curiosos são muitos, por que é que alguém tomaria aquela chuva toda se não durou mais do que três minutos, o que custava essa maluca esperar dentro ou debaixo de algum lugar, agora fica andando por aí toda encharcada e com essa regatinha branca ainda por cima, já disse o que me custava esperar a chuva passar e não acho que seja pouca coisa, além do que nem há grande coisa a se mostrar, longe de ser uma bem-dotada, devo parecer é um vira-lata molhado, molhado e cego, os óculos mais atrapalham do que ajudam numa situação como essa, “deixe eu ver se tenho trocado”, “não quis esperar a chuva passar?”, “emergência, esqueci minha bolsa no banco”, “ah, sim, não teve jeito, então”, entro no xerox com uma resposta na ponta da língua, a presença do proprietário deve ter calado as possíveis piadinhas, a demora me irrita porque posso adivinhar os olhos do jornaleiro saltarem da outra esquina até mim, o correio como meu porto-seguro, a funcionária deixa sua má-vontade se regalar com o meu estado deplorável, volto ao serviço da minha mãe pra entregar o comprovante do depósito e sou finalmente salva, só a blusa porque não vou sair por aí com roupas de ginástica e sandálias de borracha, já me basta o ridículo que passei até agora, e sacolas com iogurte e roupa molhada pra acompanhar as duas bolsas e completar o meu figurino bizarro, socorro

ufa, chegar na vó e comer, porque até as cinco e pouco em jejum é demais, e passar a calça jeans pra ver se seca um pouco, porque me apresentar molhada da cintura aos pés é demais, e tomar banho, porque ficar tomando friagem mesmo num dia de sol como esse é demais, e tirar um cochilo, porque até as seis em vigília é demais, acordar pra ouvir que posso ficar louca se não tomar cuidado, “foi assim que aconteceu com a Clarice, coitada, ela gostava tanto de fazer uma coisa só que acabou perdendo o juízo e agora anda por aí toda maltrapilha, falando sozinha agarrada numa sacola”, “ai, tia, olha o absurdo da comparação que você está fazendo”, é melhor carregar na indignação, indignação sincera, é verdade, ainda que eu saiba que faz sentido, noivo nenhum no mundo me seria tão constante quanto a loucura, esse cavalheiro que há anos me espera paciente e tentadoramente, um sim e seríamos felizes para sempre, porque ser louco e infeliz é demais, mas não gostei nada disso, lembrar que já fui chamada de louca por elas uma década atrás, pelo menos os loucos inspiram medo e o medo inspira respeito, voltando ao lado de cá, uma hora falando de cultura geográfica inútil e dando alguns foras, trocando diálogos e pólos, preciso conferir onde moram os pingüins e os ursos polares

dream about the sun, you queen of rain (sonhe com o sol, sua rainha da chuva)

(créditos: Roxette)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Carnaval

A ponta de uma dessas madrugadas que insisto em tentar desenrolar:

The North is to South what the clock is to time (O norte é para o sul o que o relógio é para o tempo)
There's East and there's West and there's everywhere life (Há leste e há oeste e há vida em todo lugar)
I know I was born and I know that I'll die (Sei que nasci e sei que morrerei)
The in between is mine (O entremeio é meu)
I am mine
(Eu sou meu)

O texto é pouco e é bobo, mas me animo mesmo assim e volto pra casa cantarolando o refrão de “Resistiré”, sim, aquela de Ata-me!, vamos ver se levo mais a sério desta vez:

Resistiré, erguido frente a todo
Me volveré de hierro para endurecer la piel
Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
Soy como el junco que se dobla
Pero siempre sigue en pié

Resistiré, para seguir viviendo
Soportaré los golpes y jamás me rendiré
Y aunque los sueños se me rompan en pedazos
Resistiré, resistiré


Uma desculpa qualquer me faz cair em tentação novamente, minha lista de pecados mais de duas dezenas mais gorda, pratos para até cinco línguas e uma centena de convivas:

Leandra Leal, El Gallo, Daniel Auteuil, Leonardo DiCaprio, Yves Jacques, Victoria Abril, Pink Floyd, Rodrigo Santoro, Federico Luppi, Gérard Depardieu, Carmen Maura, Matheus Nachtergaele, Gael García Bernal, Franka Potente, Anouk Aimée, Natassja Kinski, Paz Vega, Lázaro Ramos, Marlon Brando, Jean Reno, Robert De Niro, Robin Williams, Daniel Day-Lewis

Enrolei e não vi o show do U2, mas fecho este post com uma pontada:

And it’s true we are immune (E é verdade que somos imunes)
When fact is fiction and TV reality (Quando o fato é ficção e realidade de TV)
And today the millions cry (E hoje milhões choram)
We eat and drink while tomorrow they die
(Nós comemos e bebemos enquanto amanhã eles morrem)

[mais uma vez, me poupo de traduzir o óbvio e o não-óbvio do espanhol, perdão]
(créditos ainda não indicados: Pearl Jam e Dúo Dinámico)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

No limbo

Depois quero negar o quê de CDF que ainda existe em mim. Show dos Stones e, empolgada com o tal alemão, me esqueço de incluir o evento aqui. Segue a retificação:

Sympathy for the devil (Simpatia pelo demônio)
- The Rolling Stones -

Please, allow me to introduce myself (Por favor, permita que eu me apresente)
I'm a man of wealth and taste (Sou um homem de riqueza e bom gosto)
I've been around for a long, long year (Estou por perto há um longo, longo ano)
Stole many a man's soul and faith (Roubei a alma e a fé de muitos homens)
I was 'round when Jesus Christ (Estava por perto quando Jesus Cristo)
Had his moment of doubt and pain (Teve seu momento de dúvida e dor)
Made damn sure that Pilate (Garanti que Pilatos)
Washed his hands and sealed his fate (Lavasse as mãos* e selasse seu destino)
Pleased to meet you (Prazer em conhecê-la)
Hope you guess my name (Espero que adivinhe meu nome)
But what's puzzling you (Mas o que está confundindo você)
Is the nature of my game (É a natureza do meu jogo)
Stuck around St. Petersburg (Fiquei um tempo em São Petersburgo)
When I saw it was a time for a change (Quando vi que era hora de mudança)
Killed the czar and his ministers (Matei o czar e seus ministros)
Anastasia screamed in vain (Anastácia gritou em vão)
I rode a tank, held a general's rank (Andei de tanque, tive uma patente de general)
When the Blitzkrieg raged, and the bodies stank (Quando a Blitzkrieg atacava, e os corpos fediam)
Pleased to meet you (Prazer em conhecê-la)
Hope you guess my name, oh, yeah (Espero que adivinhe meu nome, oh, sim)
Ah, what's puzzling you (Ah, o que está confundindo você)
Is the nature of my game, oh, yeah (É a natureza do meu jogo, oh, sim)
I watched with glee (Observei com júbilo)
While your kings and queens (Enquanto seus reis e suas rainhas)
Fought for ten decades (Brigavam por dez décadas)
For the gods they made (Pelos deuses que eles criaram)
I shouted out, "Who killed the Kennedys?" (Gritei, “Quem matou os Kennedy?”)
When after all it was you and me (Quando, afinal de contas, fomos você e eu)
Let me please introduce myself (Deixe que eu me apresente, por favor)
I'm a man of wealth and taste (Sou um homem de riqueza e bom gosto)
And I laid traps for troubadours (E preparei armadilhas para trovadores)
Who'd get killed before they reached Bombay (Que eram mortos antes de alcançarem Mumbai)
Pleased to meet you (Prazer em conhecê-la)
Hope you guess my name, oh, yeah (Espero que adivinhe meu nome, oh, sim)
But what's puzzling you (Mas o que está confundindo você)
Is the nature of my game, oh, yeah (É a natureza do meu jogo, oh, sim)
Get down, baby (Abaixe-se*, meu bem)
Pleased to meet you (Prazer em conhecê-la)
Hope you guess my name, oh, yeah (Espero que adivinhe meu nome, oh, sim)
But what's confusing you (Mas o que está confundindo você)
Is just the nature of my game (É só a natureza do meu jogo)
Just as every cop is a criminal (Exatamente como cada policial é um criminoso)
And all the sinners saints (E todos os pecadores, santos)
As heads is tails, just call me Lucifer (Como cara é coroa, pode me chamar de Lúcifer)
'Cause I'm in need of some restraint (Pois estou precisando de um pouco de contenção)
So, if you meet me, have some courtesy (Então, se me encontrar, mostre um pouco de cortesia)
Have some sympathy, and some taste (Mostre um pouco de simpatia, e um pouco de bom gosto)
Use all your well-learned politesse (Use toda a sua bem-aprendida politesse*)
Or I'll lay your soul to waste, um, yeah (Ou colocarei a sua alma para penar, hum, sim)
Pleased to meet you (Prazer em conhecê-la)
Hope you guess my name, um, yeah (Espero que adivinhe meu nome, hum, sim)
But what's puzzling you (Mas o que está confundindo você)
Is the nature of my game (É a natureza do meu jogo)
Um, mean it, get down (Hum, estou falando sério, abaixe-se)
Woo, who, oh, yeah, get on down, oh, yeah, oh, yeah! (Oh, sim, abaixe-se mais, oh, sim, oh, sim)
Tell me, baby, what's my name? (Diga, meu bem, qual é o meu nome?)
Tell me, honey, can you guess my name? (Diga, querida, você consegue adivinhar o meu nome?)
Tell me, baby, what's my name? (Diga, meu bem, qual é o meu nome?)
I tell you one time, you're to blame (Vou lhe dizer* uma vez, a culpa é sua)
Oh, yeah, what's my name? (Oh, sim, qual é o meu nome?)
Tell me, baby, what's my name? (Diga, meu bem, qual é o meu nome?)
Tell me, sweetie, what's my name? Oh, yeah! (Diga, benzinho, qual é o meu nome? Oh, sim!)

* “lavar as mãos” no sentido figurado, claro; “politesse” é a palavra francesa para “polidez”, algo como boa educação, as formalidades todas; “tell” ou “dizer” aqui eu entendo como “avisar”, quase como uma ameaça, por isso a tradução no futuro; e a de “get down, baby” deixei até pra comentar por último porque parece simples, mas não é, então acabei me decidindo pela mais “literal” e cada um que a leia como quiser!

(clique nos respectivos links – já aviso que há problemas de tradução também – se o que você estranhou foi “
Blitzkrieg” e “Mumbai”)

O melhor momento do show, na minha opinião, deu até pra pular. O Mick Jagger todo teatral com aquele chapéu e aquele... casaco? Sobretudo? Ou era uma capa? Preciso dar uma olhada na fita. Falando em teatral, o Keith Richards é mesmo uma figura, perdôo o pequeno fora do “it's good to play here... it's good to play anywhere”. Pelo menos, ele não foi “populista” (o que foi aquele “deus é brasileiro” do Bono Vox? Opa, mas isso teoricamente ainda não aconteceu e não deveria estar mencionado neste post, ignorem). Preciso mesmo assistir à gravação pra rever os motivos pelos quais o meu-amado-idolatrado-salve-salve Johnny Depp afirmou ter se inspirado nele pra criar the best pirate I have ever seen. Pena que a turnê impediu o Richards de fazer uma ponta como o pai do Jack Sparrow (perdão, Capitão Jack Sparrow) na continuação, acho que eu me acabaria no cinema, aquele êxtase do genial.

Vou ultrapassar a centena. Cento e treze, cento e catorze, acho. Antes fosse pecado mesmo. Maldita fronteira entre o céu e o inferno.

(já ia me esquecendo: tenho uma proposta de atividade pedagógica com essa letra e coloco-a à disposição de interessados, curiosos, malucos... ah, cdfs, claro...)

(creditozinhos desta vez: aos roteiristas de Piratas do Caribe – A maldição do Pérola Negra)

domingo, 19 de fevereiro de 2006

só brincando

primeiro a gente faz compras de mentirinha (butthischickenistooexpensive), depois a gente faz de conta que eu sei alemão (dertonmachtdiemusik)

E eu fico tão feliz!...

(mas alguém já viu felicidade de pobre durar, sessenta e nove e sessenta e três o Tangram 1B do professor, cento e três e oitenta e um o Tangram 2 também do professor, sessenta e nove e sessenta e três o Tangram Z ainda do professor, oitenta e oito e setenta e dois o Langenscheidt Taschenwörterbuch Portugiesisch, noventa e nove e quarenta e seis o Langenscheidt Groβwörterbuch Deutsch als Fremdsprache, cento e quarenta e três e quarenta e oito o Wahrig, fora os setenta e sessenta e três e os trinta e cinqüenta e nove do Planet@ 2)

aí eu escrevo um e-mail (aindaselembrademim), aí eu recebo a resposta (comopoderiatermeesquecidodevocê)

E eu fico tão feliz!...

A literatura é para mim uma atividade lúdica, lúdica naquele sentido que eu dou ao jogo, à brincadeira, mais aquilo que você já conhece bem: uma atividade erótica, uma forma de amor. (...) Escrever me faz muito feliz.
(créditos a uma das minhas mais queridas ex-professoras e ao meu queridinho)

sábado, 18 de fevereiro de 2006

tangram, ou recorte-e-cole

não é discriminação às avessas, mas os que têm menos me deixam mais feliz, é claro que os que têm mais, inclusive dentre os que têm menos, porque muito menos também já é demais, preciso virar aquele quarto do avesso

Uma letra (completa, desta vez) que estou devendo há um tempão:

amor amigo - milton nascimento + fernando brant - o que eu vou dizer você nunca ouviu de mim pois minha timidez não me deixou falar por muito tempo para mim você é a luz que revela os poemas que fiz me ensina a viver me ensina a amar quem conhece da terra e do sol muito sabe os mistérios do mar o que eu vou dizer você nunca ouviu de mim pois quieto que sou só sabia sangrar sangrar cantando quantas vezes eu quis me abrir e beijar e abraçar com paixão mas as palavras que devia usar fugiam de mim recolhidas na minha prisão o que eu vou dizer você nunca ouviu de mim pois minha solidão foi não falar mostrar vivendo quantas vezes eu quis me abrir e as portas do seu coração sempre pediam seu amor é meu sol e sem ele eu não saberia viver

Valeu, Chico!

(na versão que tenho, o final é “MAS o que eu vou dizer você nunca ouviu de mim pois minha solidão foi não falar mostrar vivendo quantas vezes eu quis me abrir e as portas do MEU coração sempre pediam seu amor é meu sol e sem ele eu não saberia viver”, deve ser porque é ao vivo)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

The string game, once more

well, my name is Bruna, I’m 23 years old, I’ve studied Languages at Unesp, now I’m studying to get my Master degree, I like to listen to music, especially rock, but also some MPB, go to the movies, read and dance, I started studying English when I was a little girl, because of music, I guess, and I really love it, just like I love music

And Argentina is a country that is very famous nowadays here in Brazil because of some soccer players. No, I don’t support Corinthians, much on the contrary.

[traduções desnecessárias desta vez]

não vou, vou, não, não vou, mais uma vez, não vou, vou, não, não vou, mais uma vez, não vou, vou, não, não vou, mais uma vez, não vou, vou, não, não vou, mais uma vez (ad infinitum)

You can't always get what you want (Você não pode ter sempre o que quer)
You can't always get what you want (Você não pode ter sempre o que quer)
You can't always get what you want (Você não pode ter sempre o que quer)
But if you try sometimes you just might find (Mas, se tentar algumas vezes, pode descobrir)
You get what you need (Que você tem aquilo de que precisa)


[“ad infinitum” é bem óbvio também, né?]
[ah, mas string pode ser barbante, corda, essas coisas - no caso, barbante mesmo - e once more é mais uma vez]

(créditos: The Rolling Stones, que vou perder pela terceira vez, a última, pelo visto, a última não por mim, mas por eles)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

People, man, people...


Um mês e um dia e este é o terceiro filme ao qual assisto que traz à tela judeus. Acredito em coincidências acima de muitas coisas, mas desta vez seria tolice. Que nenhuns malucos suicidas-assassinos o tomem como inspiração.

O Mathieu Kassovitz reconheci após algumas cenas de hesitação – sim, o Nino Quincampoix da Amélie Poulain, aquele que disse preferir dirigir a atuar! O Geoffrey Rush reconheci após alguns minutos de confirmação – sim, o Marquês de Sade, o Capitão Barbossa (assim mesmo, com esses dois esses horríveis)! O Eric Bana reconheci após algumas horas de distração – sim, o Heitor de Tróia, aquele que me lembra um desses nossos galãzinhos globais!

Duas horas e quarenta e cinco minutos que se sustentam sem problemas devido às excelentes atuações, à ótima direção e à boa história. E eu nem sabia que o Spielberg era o diretor. E eu nem sabia que o Spielberg era judeu.

no amor:

(Avner) How long into pregnancy are you supposed to stop having sex? [Em que período da gravidez você deve parar de ter relações sexuais?]
(Daphna) Labor. [No parto.]

(Avner) ::about their newborn baby:: She's frightfully ugly. [::sobre o bebê recém-nascido deles:: Ela é assustadoramente feia.]
(Daphna) She takes after her father. [Puxou ao pai.]

(Daphna) We should stay at home. [Deveríamos ficar em casa.]
(Avner) You are the only home I ever had. [Você é a única casa que já tive.]
(Daphna) ::laughs:: This is so corny! [::ri:: Que brega!]
(Avner) What? That took a lot for me to say! [Quê? Me custou muito dizer isso!]
(Daphna) I bet. Why did I have to marry a sentimentalist? You're ruining my life. [Com certeza. Por que tive que casar com um sentimentalista? Você está arruinando a minha vida.]
(Avner) ::to their newborn baby:: Your mother's teasing me. [::para o bebê recém-nascido deles:: A sua mãe está me provocando.]


e na guerra:

(Golda Meir) Forget peace for now. We have to show them we're strong. [Esqueçam a paz por enquanto. Temos que mostrar a eles que somos fortes.]

(Steve) Don’t fuck with the Jews. [Não mexa com os judeus.]

(Ephraim) We kill for our future. We kill for peace. [Matamos pelo nosso futuro. Matamos pela paz.]


Inglês, árabe, alemão, hebraico, italiano, francês – em que outro filme se podem ouvir tantas línguas? Preciso comprar o DVD. E novamente a tal história da importância de se dividir a mesa com alguém.

A mesma sombrinha, as mesmas sandálias, talvez até a mesma água. Croissant de chocolate por falta de opção, batom de chocolate ao leite pelo preço, água mineral pela conveniência. Me irrita deduzir que todas essas pessoas são a elite cultural da cidade e/ou a elite intelectual da cidade e/ou a elite financeira da cidade. Me irrita mais ainda deduzir que eu sou uma dessas pessoas, perdida entre dois desses e/ous. Mas lá vem a força, lá vem a magia dessa mulher que, perdida entre tantos uoous, me apazigua. A segunda ou terceira parece dedicada a todas essas pessoas, a todos nós:

Pré-pós-tudo-bossa-band - composição: Zélia Duncan e Lenine - Todo mundo quer ser bacana, álbuns, fotos, dicas pro fim de semana, filmes, sebos, modas, cabelos, cabeça feita, receitas perfeitas, descobertas geniais, todo mundo acha que é novo, tribos, gírias, grifes, adornos, ritmos exóticos, viagens experimentais, pré-pós-tudo-bossa-band, mente que sempre muito bem, pré-pós-tudo-bossa-band, gosto que me enrosco em quem?, pré-pós-tudo-bossa-band, não sei, mas tô dizendo amém, todo mundo quer ser da hora, tem nego sambando com o ego de fora, caras, bocas, marcas, estilos, o ó do bobó, o rei da cocada, a pedra fundamental, todo mundo quer ser de novo o novo, o ovo de pé, o estouro, ícones atlânticos, o dono da voz crucial, pré-pós-tudo-bossa-band, não vi, mas sinto que já vem, pré-pós-tudo-bossa-band, moderno, eu não te enxergo bem, pré-pós-tudo-bossa-band, tá cego, mas tá guiando alguém.

É a minha cidade, e é a primeira dessa mini-turnê pelos SESCs do país.
É a minha cidade, e é a terceira mais arborizada do país, perdendo apenas para o Rio e para Curitiba.
Não é grande coisa, mas é a minha cidade.
(créditos que faltaram ao longo do post: aos roteiristas de Crash – no limite, aos roteiristas de Munique e ao Milton)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Quem tem medo de passar mal?

Cortar o cabelo às 13h30, finalmente. Buscar as chaves esquecidas na banca de jornal. Tratar de burocracias via e-mail e recados. Cinema às 19h30 e às 21h30. O que fazer entre as 16h00 e as 19h00?

DOAR SANGUE, por que não?

pré-requisitos:
* pesar acima de 50 quilos
* ter entre 18 e 60 anos
* gozar de boa saúde

vejamos:
* 50 quilos e 600 gramas
* 23 anos
* 1 metro e 67 centímetros
* pressão 11 por 7
* pulso 68
* temperatura 36 e 7
* última menstruação terminada há três dias
* bem dormida
* bem alimentada
* nada de álcool nas últimas muitas 24 horas
* nada de cigarro nunca
* nada de (outras) drogas nunca
* nada de promiscuidades
* nada de medicamentos
* nada de doenças contagiosas, bobas ou não
* nada de doenças graves, contagiosas ou não
* estudante, mas não da área de saúde

destruindo mitos:
* NÃO se contrai doença
* NÃO se engorda ou se emagrace
* NÃO se muda a consistência do sangue
* NÃO dói mais do que um exame de sangue comum
* NÃO demora muito a coleta em si (uns dez minutos, no meu caso, mais uma meia hora com o atendimento e o lanchinho final)

extras:
* todo o material utilizado é descartável e, portanto, seguro
* mulheres podem doar sangue de quatro em quatro meses
* homens podem doar sangue de três em três meses
* a doação pode ser feita em qualquer época do ano
* são emitidos atestados, caso sejam necessários
* o volume retirado de sangue relaciona-se com o peso do doador, até o limite de 500ml, e é reposto pelo organismo em 24 horas
* não há necessidade de jejum, mas recomenda-se não ingerir alimentos gordurosos ou fazer refeições abundantes nas três horas anteriores à doação
* podem-se consumir bebidas alcoólicas após o almoço ou jantar seguinte à doação
* recomenda-se não fumar uma hora antes e uma hora depois da doação
* recomenda-se evitar atividades físicas logo após a doação
* recomenda-se não carregar peso, pelo resto do dia da doação, com o braço do qual se extraiu o sangue
* recomenda-se beber bastante água, suco, etc. nos dias seguintes à doação (e sempre!)
* recomenda-se o consumo de alimentos ricos em ferro nos dias seguintes à doação (e sempre!)

cálculos:
* uma bolsa de sangue pode ajudar até três pessoas
* uma mulher pode doar sangue até três vezes por ano
* apenas com um pouco do seu sangue, uma mulher pode ajudar até nove pessoas por ano
* um homem pode doar sangue até quatro vezes por ano
* apenas com um pouco do seu sangue, um homem pode ajudar até doze pessoas por ano
* dos meus 18 anos até hoje, eu poderia ter doado sangue 17 vezes além desta
* apenas com um pouco do meu sangue, dos meus 18 anos até hoje, eu poderia ter ajudado até 51 pessoas além das três que possivelmente vou ajudar desta vez

Quem diria que procurar manter-se o mais saudável possível seria um ato de altruísmo? Vamos lá, meninas, vamos lá, meninos, deixem de ser egoístas e cuidem-se um pouquinho melhor! ;)
Depilação geral nas horas que ainda restam. Sessão das 19h30 cancelada por falta de interessados. Sessão das 21h30 cancelada por mim mesma e por pirraça. De volta ao alemão em 06/03/2006.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Laissez-faire

(realmente, deve ser vontade de fugir, mas fugir para onde?, mais, fugir do quê?, do nada e de tanta coisa, tudo tem um só nome, o meu, afinal, passado pelos deveres, que venham os prazeres, então, que prazeres?, tudo tem um só nome, o meu, e ponto final, sem sobrenome, bastardinhos que odeio com todo o meu mítico amor maternal)

arte-burocracia-burocracia-arte – e o que é que a gente faz quando as coisas acabam se misturando?, pior, o que é que a gente faz quando um dos lados acaba predominando?, pior ainda, o que é que a gente faz?

Sinopse muito pessoal de O mercador de Veneza:

Esquecida do Shakespeare, entro sem saber ao certo, início meio perdido, culpa da bolacha de baunilha e chocolate,

Al Pacino

e

Jeremy Irons,


que Joseph Fiennes, que nada, mas bem que poderia ser o Ralph Fiennes, idéia idiota surgida agora, nada a ver com o filme, não resisto, um elenco muito pessoal de uma refilmagem hipotética de algo só por isso já melhor que onze-homens-e-um-segredo, como eu viajo, voltando a veneza, tantos caminhos pelos quais se perder, as falas ou as legendas, o drama ou a comédia, a única certeza é a do chumbo, culpa do anel de ouro e turquesa, final meio perdido, saio sem saber ao certo, esquecida do Shakespeare.

(para não dizer que não falei dos podres, como é que alguém pode ler e/ou ouvir o monólogo abaixo e continuar achando que se trata de uma obra “anti-semita”?)

(Shylock) He hath disgraced me, and hindered me half a million, laughed at my losses, mocked at my gains, scorned my nation, thwarted my bargains, cooled my friends, heated mine enemies. And what's his reason? I am a Jew. I am a Jew. Hath not a Jew eyes? Hath not a Jew hands, organs, dimensions, senses, affections, passions? Fed with the same food, hurt with the same weapons, subject to the same diseases, healed by the same means, warmed and cooled by the same winter and summer, as a Christian is? If you prick us, do we not bleed? If you tickle us, do we not laugh? If you poison us, do we not die? And if you wrong us, shall we not revenge? If we are like you in the rest, we will resemble you in that. If a Jew wrong a Christian, what is his humility? Revenge. If a Christian wrong a Jew, what should his sufferance be by Christian example? Why, revenge. The villainy you teach me, I will execute, and it shall go hard but I will better the instruction.

[(Shylock) Ele me desgraçou, e me dificultou meio milhão, riu das minhas perdas, tirou sarro dos meus ganhos, desdenhou a minha nação, impediu as minhas barganhas, esfriou minhas amizades, esquentou minhas inimizades. E qual é o motivo dele? Eu sou judeu. Eu sou judeu. Judeu não tem olhos? Judeu não tem mãos, órgãos, dimensões, sentidos, afeições, paixões? Alimentado pela mesma comida, ferido pelas mesmas armas, sujeito às mesmas doenças, curado pelos mesmos meios, aquecido e resfriado pelos mesmos inverno e verão que um cristão? Se nos picam, não sangramos? Se nos fazem cócegas, não rimos? Se nos envenenam, não morremos? E se nos ofendem, não nos vingamos? Se somos como vocês no resto, nós nos pareceremos com vocês nisso. Se um judeu ofende um cristão, qual é a humildade deste cristão? Vingança. Se um cristão ofende um judeu, qual deve ser, pelo exemplo cristão, o favor deste judeu? Ora, vingança. A vileza que vocês me ensinam, executarei, e isso será difícil, mas aperfeiçoarei as instruções.]


Há um bocado de falas que gostaria de citar, amor, ódio, certo, errado... Fico com uma que me chamou a atenção por me lembrar do antigo significado de dividir a mesa com alguém:

(Shylock) I will buy with you, sell with you, talk with you, walk with you, and so following. But I will not eat with you, drink with you, nor pray with you.

[(Shylock) Eu comprarei com você, venderei com você, falarei com você, caminharei com você, e assim por diante. Mas eu não comerei com você, beberei com você, nem rezarei com você.]


(e deixo o tal elenco muito pessoal de uma-refilmagem-hipotética-de-algo-só-por-isso-já-melhor-que-onze-homens-e-um-segredo para um outro post, aguardem)

(créditos: eu, perdida entre William Shakespeare e Michael Radford)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Um cântico e uma epístola

Sensação de dia perdido. Como é que alguém consegue levantar às três e meia, almoçar, ler um pouco, voltar a dormir e só acordar novamente às nove e meia? Acúmulo de sono, claro, e o frio também, além de um certo... desânimo. O pior foi perder rock e cinema. Mais disposição à noite, um jantar simples e uvas como sobremesa, um pouco de trabalho para me dignificar, as primeiras linhas de uma carta prometida há dias e uma pausa para isto aqui. Trecho do que li:

Você roubou meu coração,
minha irmã, noiva minha,
você roubou meu coração
com um só de seus olhares,
uma volta dos colares.
Como seus amores são belos,
minha irmã, noiva minha.
Seus amores são melhores do que o vinho,
e mais fino que os outros aromas
é o odor de seus perfumes.
Seus lábios são favo escorrendo,
ó, noiva minha.
Você tem leite e mel sob a língua,
e o perfume de suas roupas
é como a fragrância do Líbano.

Você é um jardim fechado,
minha irmã, noiva minha,
um jardim fechado,
uma fonte lacrada.
Sim, a Bíblia, há tempos gostaria de conseguir lê-la, curiosidadezinhas literárias, começo pela passagem mais “laica”, então, o famoso Cântico. Mas agora volto à minha epístola (não resisti ao trocadilho, perdão).

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Como preencher três atos

Família na teoria toda a manhã, família na prática no começo da tarde, this is my father, his name is Jorge, he is a Math teacher, these are my aunts Rosa and Tereza, they are single, they live downtown, this is my grandmother, her name is Fumi, she was born in 1921, this is me, I’m a Cancer, I’m 23 years old, this is my dog, her name is Lilica, she is a mutt, e todos nós gostamos muito de tofu frito, menos a Lilica, claro, por isso achamos que o almoço estava ótimo hoje.

Reproduzindo ótima companhia pelo resto da tarde, Adriana, não lhe peço nada, mas se acaso você perguntar, por você não há o que eu não faça, Alanis, it’s meeting the man of my dreams, and then meeting his beautiful wife, and isn’t it ironic, Paralamas, se você lembrar, se quiser jogar, me liga, me liga, Depeche Mode, and heaven is in front of me, your heaven beckons me enticingly, when I arrive it's gone, Bush, how did we get to here, it all went wrong, gravity claiming all your tears.

Começar a noite trabalhando porque há de se fazer por merecer, receber é bom, não importa muito se pouco, aliviar o peso e a consciência é melhor ainda, ainda que seja muito aos poucos, menos um item em uma das minhas muitas listas de intenções nunca cem por cento realizadas, longe de ser uma pagadora de promessas, eu, mas chorei tanto quando li o livro, que coisa, fechando o dia em companhia melhor ainda, definitely the best pirate I’ve ever seen, Jack Sparrow, Captain Jack Sparrow, I mean.

falando em promessas, pelo menos uma citação: (Jack Sparrow) She's safe, just like I promised. She's all set to marry Norrington, just like she promised. And you get to die for her, just like you promised. So we're all men of our word, really. Except for, of course, Elizabeth, who is in fact, a woman. [Ela está segura, exatamente como eu prometi. Está pronta para se casar com o Norrington, exatamente como ela prometeu. E você está tendo a chance de morrer por ela, exatamente como você prometeu. Logo, somos todos homens de palavra mesmo. Exceto, claro, a Elizabeth, que, na verdade, é uma mulher.]

[outras traduções: 01. sim, minhas tias são solteiras e moram no centro, não, não tenho câncer, espero que não, sou canceriana, e a Lilica tampouco é uma mutante, aparências enganam, é só uma vira-latinha meio doida mesmo 02. é conhecer o homem dos meus sonhos, e depois conhecer a sua bela esposa, e isto não é irônico? 03. e o paraíso está diante de mim, o seu paraíso acena para mim tentadoramente, quando eu chego ele se foi 04. como chegamos aqui?, deu tudo errado, a gravidade reivindicando todas as suas lágrimas 05. o melhor pirata que já vi!]

(créditos ainda não mencionados: Ted Elliott, Terry Rossio, Stuart Beattie e Jay Wolpert, nunca vi tanta gente trabalhando num só script)

sábado, 11 de fevereiro de 2006

Sem vergonha

Pendurada novamente, então. Cumprida a maioria das obrigações, SESC. Noca da Portela e eu gostei, quem diria. Mas é bonito, é bonito, é bonito, sim.

O que é, o que é? - Gonzaguinha? - Eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita e é bonita, viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, ah, meu Deus, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita, viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, ah, meu Deus, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita, e a vida, e a vida o que é, diga lá, meu irmão, ela é a batida de um coração, ela é uma doce ilusão, ê, ô, mas e a vida, ela é maravida ou é sofrimento, ela é alegria ou lamento, o que é, o que é, meu irmão, há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo, é uma gota, é um tempo que nem dá um segundo, há quem fale que é um divino mistério profundo, é o sopro do criador numa atitude repleta de amor, você diz que é luta e prazer, ele diz que a vida é viver, ela diz que melhor é morrer pois amada não é, e o verbo é sofrer, eu só sei que confio na moça e na moça eu ponho a força da fé, somos nós que fazemos a vida como der ou puder ou quiser, sempre desejada por mais que esteja errada, ninguém quer a morte, só saúde e sorte, e a pergunta roda, e a cabeça agita, eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita e é bonita, viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, ah, meu Deus, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita, viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, ah, meu Deus, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita, viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, ah, meu Deus, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita, viver, e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, ah, meu Deus, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita.

Já me escreveram que pés molhados não dá, a não ser naquelas situações em que pouco importam os pés, claro, e eu concordo, precisava mesmo chover, calor de matar, mas pés, pernas, costas, tudo molhado, e se eu não tivesse deixado de lado minha aversão a sombrinhas teriam sido também cabelos, rosto, peito, mania de só usar sandália, mania justificável, o calor, a liberdade, acho que preciso é comprar calçados fechados, não se pode ser quente e livre todo o tempo, e um guarda-chuva de verdade também, talvez um como o de Manuela em Tudo sobre minha mãe, pelo menos seria divertido, arco-íris, apesar do incômodo.
(hum, correção, não sabia que o título da canção é "O que é, o que é?" e não o verso pelo qual ela é famosa, e quem me dera ganhar na megasena, a vida seria mais bonita ainda, mas eu fugiria do globoreporter)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Em jejum na cidade

Dia de botar os pés pra fora de casa e fazer o que deve ser feito,

(banco) Opa. Pronto!
(outro banco) Finalmente! Finalmente.
(ainda outro banco) Droga! Hum...
(banca) Hum... Droga!
(papelaria) Saco! Bom...
(loja) Hum. Pronto!
(farmácia) Hum... Bom.
(outra farmácia) Hum... Bom!
(ainda outra farmácia) Hum... Bom...
(nê) Parabéns! Ãhn?
(sesc) Ai. Hum.

hoje vira anteontem e mais um pouco e ainda sobra pra amanhã.
[cabeleireira?]
[serviço mãe]
[farmácia]
[nê]
[banco]
[médico]
[vó]
[sesc?]

(mas não gostei de Garotas do ABC, não detestei, mas também não gostei, atuações no geral fraquinhas, fraquinhas, algumas coisas se salvam, o frustrar expectativas e a conseqüente não-previsibilidade, por exemplo)

(ah, sim, essas eu conheço, nem acredito, também, o básico do básico)

I will wait [eu esperarei]
Even if it takes forever [mesmo que leve para sempre]
I will wait [eu esperarei]
Even if it takes a life time [mesmo que leve uma vida inteira]
Somehow I feel inside [de algum modo, por dentro eu sinto]
You never ever left my side [que você nunca saiu do meu lado]
Make it like it was before [faça ser como era antes]
Even if it takes a life time, takes a life time [mesmo que leve uma vida inteira, leve uma vida inteira]

(banho ao som de Bee Gees pra acordar, não é das mais-mais, mas)
(caramba, será que é assim, então, vou ter que morar sozinha-sozinha ou casar-juntar pra poder sair de casa de uma vez por todas?)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

O dia em que vi minhas cordas vocais

Acordar com a chuva na janela, um sorriso nos lábios (sim, eu sei que isto é um... Pleonasmo?) e uma canção na cabeça, logo transferida para o rádio (a canção, não a cabeça, claro, ambigüidades forçadas):

Mão e luva
- Adriana Calcanhotto + Pedro Luis e A Parede -

Dia de chuva / Tão triste, tão bom
No espelho um recado de batom de uva
Era o fruto feliz da noite passada
Você foi embora / Acordei e nada

Luva e mão / Mão e luva
Vamos passear de guarda-chuva
Mão e luva / Luva e mão
Nosso encontro parecia perfeição

Luva e mão / Mão e luva
Vamos passear de guarda-chuva
Mão e luva / Luva e mão

Vamos voltar o relógio / Fotografar os segredos
Quero você como um credo / Vamos nos dar privilégios

Meu sol / Pingos na calçada
Sou só / Chuva e lágrimas
Vem já / Antes que anoiteça
Tecer / Noites e páginas

Luva e mão / Mão e luva
Vamos passear de guarda-chuva
Mão e luva / Luva e mão
Nosso encontro parecia perfeição

Luva e mão / Mão e luva
Vamos passear de guarda-chuva
Mão e luva / Luva e mão

Vamos voltar o relógio / Fotografar os segredos
Quero você como um credo / Vamos nos dar privilégios

Meu sol / Pingos na calçada
Sou só / Chuva e lágrimas
Vem já / Antes que anoiteça
Tecer / Noites e páginas

Luva e mão / Mão e luva
Vamos passear de guarda-chuva
Mão e luva / Luva e mão
Nosso encontro parecia perfeição

Luva e mão / Mão e luva
Vamos passear de guarda-chuva
Mão e luva / Luva e mão


Bobinha, antes eu não gostava, mas engraçadinha, agora ouço numa boa, músicas que chamo de “felizes”, em mais de um sentido (e quantos sentidos será que há?), melhor do que chove-chuva-chove-sem-parar.

Mas que sorte, uma trégua bem na hora da consulta, muito simpático o Dr. Fernando, raro um médico que joga conversa fora com o paciente ao invés de despachá-lo em cinco minutos, audiometria e mês ou dois de fono, então, dinheiro que vai, voz que fica, voz que fica, dinheiro que entra, ação-e-reação, básico.

(e esse “ê-ô” do final me lembrou algo como à-la-Elis, ou será que é só delírio meu?)

(ah, e os “quero você como um credo” e “chuva e lágrimas” me lembraram muito nitidamente Kid Abelha)
(e também sei que o correto é “pregas vocais”, não me interesso só pelo correto)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

E aí, velhinha?

Primeira versão:
- Se não fosse a chuva...

Segunda versão:
- Se não fosse o governo...

Versão definitiva:
- Se não fosse a preguiça...

Realmente tinha planos para o dia de hoje, comprar uma caixinha para DVD, comprar uns CDs virgens, comprar uns envelopes para CD, comprar mais uns CDs, mandar consertar o controle do DVD player, voltar para casa e gravar umas coisas, voltar para o Centro e passar na sua casa, a chuva me fez atrasar, o atraso no meu pagamento me fez desanimar, a preguiça me fez desistir, mudei de planos, rever uns trechos de Ata-me!, rever uns trechos de Tudo sobre minha mãe, buscar imagens e informações na internet, publicar mais dois posts neste blog inútil, é, eu sei que nem você tem paciência pra ler isso, sei e levo numa boa, porque me divirto mesmo assim, quase só eu lendo, quase um verdadeiro diário, chuva, falta de grana e preguiça combinam mesmo com sessão cinema-em-casa e vamos-perder-tempo-online, acabei me empolgando e assistindo aos filmes quase na íntegra, quando vi a hora fiquei até sem graça de telefonar, por isso a mensagem, perdão, espero que seu dia, ao contrário do meu, tenha sido especial, pra terminar isto aqui, um joguinho bobo, do tipo pense-rápido, três coisas que me lembram você:

01. Bon Jovi, claro
(lembra de quando comemorávamos o aniversário do Jon? rs)

02. Bon Jovi de novo não vale, então... O ano de 1996
(voltar para casa de carona com a sua tia, lembra?)

03. Mercedes Benz, a música, claro
(como era mesmo aquela história de cantar no chuveiro? rs)

E não se esqueça: “I ain’t going down, I’m gonna find a way.”

[tradução livre: “Não vou desistir, vou dar um jeito.”]

(créditos: Bon Jovi)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Constança, meu bem, constança

Meses de a-gente-precisa-combinar-alguma-coisa. Finalmente. Biblioteca, segunda, oito horas, não me esqueci. Cinema, porque bar na segunda. Duas opções, ambas de conteúdo sócio-alguma-coisa, ambas já vistas, não me importo. Crash – no limite. Não, O jardineiro fiel. Rever o filme após as premiações e as indicações, então.

Como se trata de cinema, não de DVD, e as citações do imdb não me chamaram tanto a atenção, serei breve desta vez. Há frases ótimas, claro, o Dr. Lorbeer comparando a indústria farmacêutica ao contrabando de armas, Tessa e depois Justin defendendo a idéia de que o fato de os problemas mundiais serem muitos não justifica cruzarmos os braços e não fazermos ao menos o mínimo que podemos para ajudar, Ghita deixando implícito a Justin que Tessa não achava necessário contar a ele que seu amigo Arnold era homossexual porque acreditava na confiança mútua... Falando no casalzinho, uma foto, foto que, aliás, me lembrou um pouco uma de O morro dos ventos uivantes, também protagonizado pelo Ralph Fiennes, seguem as duas para comparação:

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Diferentes, é claro, mas com alguma coisa em comum (o ator?), como diriam as velhas propagandas do Free, propagandas de que eu gostava muito quando criança, provavelmente porque as considerava inteligentes, melhores do que as do Marlboro com aquele cowboy nada-a-ver, ainda bem que nunca fui cabecinha fraca o suficiente pra começar a fumar por causa disso. Voltando ao assunto que interessa, não vi Cidade de Deus ainda, sim, alienadinha a moça, mas o Fernando Meirelles já me ganhou só com esse seu Jardineiro, falando nisso, um jardineiro desses, hein, ia colocar só uma foto do Fernando aqui, pequena homenagem, mas vou pôr uma do Ralph-Fiennes-como-Justin-Quayle, parodiando o Justin-Quayle-como-Michael-Adams do filme, especialmente pra você, Ju, que disse não saber quem ele é, um dos meus Top 5, quesitos útil e agradável:

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Nada de fotos da Rachel, meninos, economia de espaço, mas admito que ela é uma beldade mesmo e, melhor, uma beldade com talento, ótimo quando o agradável se une ao útil, estou torcendo por ela no Oscar, por ela especialmente como representante do nosso Meirelles, sem contar a indicação para melhor trilha sonora, ouvi-o dizer na TV que ficou agradavelmente surpreso, é o cara que trabalha com o Almodóvar, trabalha muito bem mesmo, prestei mais atenção à trilha desta vez e gostei muito, há uma cena ótima, música forte, africana enquanto o garçom está na cozinha muda imediatamente para música suave, européia quando ele cruza, bandeja em uma das mãos, a porta da cozinha para o salão.

Fecho este post com uma dúvida, ou meus ouvidos muito me enganaram ou a cena da despedida no aeroporto não é a mesma no início e no final do filme, primeiro pensei ter ouvido um “see you in a few days”, depois um “see you in a couple of days”, se alguém for ver no cinema e puder prestar atenção nisso e me contar depois, agradeço muito, ou se alguém for alugar o DVD e também puder prestar atenção nisso e me contar depois, agradeço muito também, como se fizesse muita diferença, mas deveria fazer, e pra mim faz, chata que sou.

P.S.: Outra dúvida, mais idiota ainda, o Fernando Meirelles não lembra bastante um desses atores-mirins que trabalham na Globo, um loirinho, famoso até, o sorriso é o mesmo, acho, apesar de o sobrenome, se não me engano, não ser o mesmo, será que são parentes?

(créditos referentes ao título do post: trecho de uma cantiga de roda que conheço por causa de Hoje é dia de Maria, preciso comprar o livro com o roteiro, aliás, adorei, a primeira parte, pelo menos, a cantiga pode ser ouvida aqui)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Ao sangue

Dia de pequenas grandes decobertas feitas por acaso, “como devem ser feitas as pequenas grandes descobertas” (eu mesma em e-mail ainda não enviado).

A primeira, que minha irmã e eu compartilhamos, além dos pais, dos sobrenomes e de mais uns pouquíssimos bens, a vontade de make-a-real-difference-in-the-world.

A segunda, que gosto mesmo de umas coisas muito... “estranhas” em matéria de música, e não só em matéria de música, mas pelo menos não tenho vergonha de assumir:

La question (a pergunta)
- Françoise Hardy -

je ne sais pas qui tu peux être (não sei quem você pode ser)
je ne sais pas qui tu espères (não sei quem você espera)
je cherche toujours à te connaître (procuro sempre conhecer você)
et ton silence trouble mon silence (e o seu silêncio perturba o meu silêncio)
je ne sais pas d'où vient le mensonge (não sei de onde vem a mentira)
est-ce de ta voix qui se tait (é da sua voz que se cala?)
les mondes où malgré moi je plonge (os mundos em que, apesar de mim mesma, mergulho)
sont comme un tunnel qui m'effraie (são como um túnel que me assusta)
de ta distance à la mienne (da sua distância à minha)
on se perd bien trop souvent (nós nos perdemos com demasiada freqüência)
et chercher à te comprendre (e procurar compreender você)
c'est courir après le vent (é correr atrás do vento)
je ne sais pas pourquoi je reste (não sei por que permaneço)
dans une mer où je me noie (em um mar em que me afogo)
je ne sais pas pourquoi je reste (não sei por que permaneço)
dans un air qui m'étouffera (em um ar que me sufocará)
tu es le sang de ma blessure (você é o sangue da minha ferida)
tu es le feu de ma brûlure (você é o fogo da minha queimadura)
tu es ma question sans réponse (você é a minha pergunta sem resposta)
mon cri muet et mon silence (o meu grito mudo e o meu silêncio)
Isso de “você é o sangue da minha ferida, você é o fogo da minha queimadura” pode ser tosco mesmo, mas até que “você é a minha pergunta sem resposta, o meu grito mudo e o meu silêncio” é bonitinho, não? Aliás, a letra pode não ser lá essas coisas, eu gosto, mas a música em si é linda, acreditem, se quiserem posso enviar por e-mail para comprovarem, não entendo nada disso, mas detectei algo como um toque de mpb-à-la-chico-buarque, e Chico é indiscutível.

domingo, 5 de fevereiro de 2006

Limites

(aquele repaso para a prova de espanhol vem bem a calhar, ¿qué cosas le aburren?, e respondi, me aburren las personas falsas, entre outras coisas, você realmente deve me considerar mais uma idiotinha qualquer que se deixa intimidar pelos seus olhares de ave de rapina, sim, eu vi você me inspecionar com cara de poucos amigos pelo retrovisor, sim, também ouvi você dizer que aumentara o som justamente para que parássemos de conversar no banco de trás, e gostaria de poder voltar no tempo agora que tenho uma resposta mais incisiva do que apenas continuar a falar livremente se era isso o que estava irritando você, adoraria poder ver a sua cara se eu tivesse pedido um minuto ao meu interlocutor, interrompido a conversa e perguntado, a propósito, obrigada pelas lições de cinismo, a gente tá atrapalhando?, que maldade essa sua mente torta pode ter detectado no que dizíamos tão abertamente, das duas, uma, ou você acha que eu sou muito burra ou você é quem é muito burro, se quiséssemos mesmo nos unir em uma conspiração contra você, e note que isso de temer é só para quem deve, hein, não o faríamos dentro do seu carro, em bom português, no mínimo estaríamos falando em francês, se uma piadinha me é permitida aqui, não sei se devo sentir raiva ou pena de um ser tão limitado como você)

(e ela podia ter dito uma coisa melhor digo eu, a gente faz o que pode pra agradar e leva mesmo assim, povo ingrato, cansaço, decepção)

mas a conversa foi mesmo ótima, sensação de finalmente estar entre seus pares, bom compartilhar lembranças e receios e projetos e risadas, o prazer aliviou o cansaço de trabalhar com isso madrugada adentro, sem contar a outra conversa também muito agradável da tarde, certamente um de meus poucos pares, uma vez mais e sempre o compartilhar, e nossa-como-o-tempo-passa

frase do dia, já citada em outro post, fuck you very much
(créditos: aos roteiristas de Crash – No limite)

sábado, 4 de fevereiro de 2006

Um dia após o outro

Ainda secando as lágrimas de ontem, ainda segurando paredes para não cair, eu me deito, eu me levanto, duas canções da Adriana enquanto tomo banho e “I’ll stand by you” antes de sair, I try to pretend I don’t need anyone to stand by me, that’s almost believable in the way I lock the gate, mas me esqueço da lixa de unha e tenho que voltar, mas me esqueço da garrafa de água e tenho que voltar mais uma vez, maldito bar e seu barulho, bendito sesc e sua música, antecipo as canções e sorrio, antecipo os livros e sorrio mais, procuro o funcionário e a encontro, o amigo encontro sem procurar mesmo, Ricardo Piglia e Henry Miller, work hard, play harder, perdi tanta coisa boa no ano passado, não posso me esquecer do cartaz que anuncia a Duncan, pelo sim, pelo não, escutar as tristezas e as alegrias alheias e silenciar as próprias por um momento, a lixa de unha fica as duas horas dentro da bolsa, mas um dos charges não fica nem dois minutos em cima da mesa, sim, chocolate, não álcool, não hoje, nem amanhã, amanhã é dia de ser séria e santa, ainda que ontem tenha sido um dia filho-da-puta.

não precisa medo, não, não precisa da timidez, todo dia é dia de viver
(créditos: Milton Nascimento – não é mania, é coincidência)

[traduções: 1. tento fingir que não preciso de ninguém para ficar do meu lado, isto é quase crível no modo como tranco o portão 2. trabalhe muito, divirta-se mais ainda]

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Atendendo a pedidos

Your congratulations (Os seus parabéns)
- Alanis Morissette -

I wouldn't have compromised as much (Eu não teria comprometido tanto)
so much of myself for fear of (tanto de mim mesma por medo de)
having you hating me
(que você me odiasse)
I would've sung so loudly (Eu teria cantado tão alto)
it would've cracked myself! (que isso teria me arrebentado!)
I became self-conscious (Eu me tornei constrangida)
of anything exuberant (por qualquer coisa exuberante)
I wouldn't have sold myself short (Eu não teria me menosprezado)

I wouldn't have kept my eyes (Eu não teria mantido os meus olhos)

glued to the ground (presos ao chão)

if I had've known my invisibility (se eu tivesse sabido que a minha invisibilidade)

would not make a difference (não faria diferença)

I would've run around screaming proudly (Eu teria corrido gritando orgulhosamente)

at the top of my voice (no máximo da minha voz)

I wouldn't have said it was in fact luck (Eu não teria dito que, na verdade, foi sorte)

i'm talking idealism here (estou falando de idealismo aqui)
I would not have been so self deprecating (Eu não teria sido tão auto-depreciativa)

I wouldn't have cowered (Eu não teria me encolhido)

for fear of having my eyes scratched out! (por medo de ter os meus olhos arrancados!)

I wouldn't have cut my comfort off (Eu não teria cortado o meu conforto)

I wouldn't have feigned needlessness (Eu não teria fingido que não precisava de nada)

I would not have discredited (Eu não teria desacreditado)

every one of their compliments (os elogios de todo mundo*)

it was your approval I wanted (era a sua aprovação que eu queria)

your congratulations (os seus parabéns)


estou de nove anos e tão enjoada dessa esterilidade que finalmente estouro e dou à luz meu choro não-programado, fruto de uma tremenda responsabilidade, é claro que não foi falta de informação, nisso de bancar a adulta, me deixei foi seduzir pela fraqueza, eu tão mulher, ele tão menino, o instinto filial falou mais alto, tudo o que eu sempre quis foi proteger e ser protegida, eu devia saber que fazer o amor não é coisa pra criança, dizem que menina amadurece mais depressa que menino, de que adianta se menino cresce mais e é melhor em fazer a guerra, não nego que também sou guerreira, guerreira e fracassada, a mácula do sangue, mas hasteio minha bandeira branca mais alto que meu orgulho e espero enquanto espio por trás das trincheiras, só o vento me responde, até uma bala, abalada e meio perdida, é verdade, atravessar sem dificuldade a ferida porta emperrada de um coração que se quer blindado, faz tanto tempo que a empurro para ver se fecha, acho que só a cauterização de um cessar-fogo a cicatrizaria, talvez seja mesmo hora de tomar as minhas próprias dores e entrar em trabalho de eu parto
(a noite cai com violência, mas acordei com o sol ao telefone, e eu Rio, Rio, Rio...)
* o problema aqui nem é tanto o inglês, mas o português mesmo, preciso estudar regência verbal!