segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Reticências

“vai pro quarto, filha” e eu vou, só pra levantar quarenta minutos depois, a língua sabendo a ruffles e uma ânsia como a última do vinho, desta vez o motivo não é alcoolismo e nem o era da outra, clichê no lugar de calúnia, “a gente que bebe e você que passa mal”, erva-doce na falta de boldo, duas canecas e dois sets, o terceiro meu estômago não agüenta, enquanto ela conserta mais duas peças eu quase estrago meia bandeja de risoles, o almoço preenche o vazio da barriga e do relógio, volto carregada de primeira carona pra casa, “deixa que eu levo e lavo esses edredons”, cada uma de nós com suas respectivas aspirações, desculpa esfarrapada essa minha das preliminares, mais uma página desse prefácio repleto de ponto-e-vírgulas, e logo a pança da minha cachorrinha punk estará repleta de larvas de varejeira, até que enfim uma visita há muito devida ao veterinário, há de se tirar o atraso, só me toca na cobertura do carnaval local a simplicidade dessa gente toda, e toco teu rosto teimoso num contato inédito, ontem adiantou e hoje

(repeat) (...) Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir. (...) Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. (...)
(mais uma vez os créditos vão ao Pessoa e/ou ao Soares)