terça-feira, 31 de janeiro de 2006

Figuras de linguagem

Em meio a tanta tranqueira virtual, um poema:
COMO DESFAZER BAGAGENS

Como quem de viagem
demora a acomodar-se
ao clima, ao horário,
às vogais de outra sintaxe,
também escrever estranha
quando muda de paisagem.

Como quem de viagem,
o que carrega apouca
a dicionários, passagens
e alguma muda de roupa,
também escrever exige
aprender a descartar-se.

Como quem de viagem
pouco ou nada decifra
do manuscrito-cidade
(mal soletra as esquinas),
também escrever ensina,
menos importa encontrar-se.

Como quem de viagem
evita, quando sabe,
os apelos do fóssil,
do que é fausto adrede,
também escrever prefere
o que se dá sem salvas.

Como quem de viagem
sabe o prazer de andar
sem endereço ou idade,
com a roupa amassada,
também escrever comparte
esse corpo sem abas.

Como quem de viagem,
para rever a janela onde
lhe sorriu uma criança,
o embarque adiaria,
também escrever alcança
os vestígios desse dia.

Como quem de viagem,
das malas faz relicário
de rostos, ruídos e mares,
de balas, livros e ácidos,
escrever também seria
como desfazer bagagens.

(créditos: Fernando Fábio Fiorese Furtado - mas que aliteração...)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Que coisa

Repetições

o maldito tango no teto

e

a maldição de ser um canceriano sem lar

(mas por que será que todo mundo gosta de abusar dos óculos?)

E uma delicada bofetada na cara

“Por que foges daquilo que desejas?”

(mas... “what do you know about my dreams?”)

(créditos: o-eca-do-Barão, Raul, Raul-de-novo, Paralamas, um amigo? e os roteiristas de A Bela...)

domingo, 29 de janeiro de 2006

Carta aberta

As reações que palavras podem provocar. Felicidade em gotas com gosto de sal. De saudade. “Há uma coisa que se chama tempo, Rocamadour, é como um bicho que anda e anda.” Deixemo-lo andar. Ou, em um dos meus incontáveis (inter)textos, “O tempo, esse bicho que anda e anda, lagarta a roer o verde das folhas.” Um verde que, apesar de tanta voracidade, talvez nunca se acabe, esperança, esperemos. E eu disse que saudade pode sufocar, não disse? Mas deve ser exatamente por quase nos matar que ela não nos deixa morrer. Falando em matar-e-morrer e voltando ao tempo e a outro de meus (inter)textos, “O tempo realmente cura, se não mata, e restam as cicatrizes.” Ou então, como já disseram da solidão, em um texto que gostaria de que fosse meu, afinal “certas canções que ouço...”, a saudade também deve ser “amiga das horas, prima-irmã do tempo.” E às vezes pode parecer que todas as minhas portas estão trancadas. Mas como, se nunca sei onde deixei as minhas chaves? Sometimes I do want to be disturbed, I must confess. Um abraço, por exemplo, e, com o perdão da não-permissão da citação, achei tão bonito, “Eu só queria, agora, estar perto de você. E te dar um abraço.” Um que nos acompanhe pelo resto do tempo.

Quanto ao resto, quanto resto, tanta perda. Eu precisava daquela meia hora, mas dizer o quê? E, hey, Mr. DJ, put that f*cking record off.

(textos: Julio Cortázar, Milton Nascimento, Alceu Valença, Madonna, uma amiga e eu)

sábado, 28 de janeiro de 2006

É isso o que eu tenho no mundo

Meus amigos, minhas fronteiras. Frasezinha que acaba de me ocorrer. Como transformar sentimento em palavra, afinal? Amor é palavra gasta, palavra vaga, palavra vasta. Mas é. E talvez seja isto o que importa. Mas não agora. Agora gostaria apenas de agradecer. Ainda que palavra seja coisa ingrata. Amigo não. “Amigo é coisa pra se guardar”, palavra a gente pode gastar. Sucinta em amigos, prolixa em palavras, eu. Não que a escolha me tenha sido dada. E não que eu esteja reclamando. Meus amigos me bastam e me crescem. Pequena que sou, eles me estendem os braços e os horizontes. Belos horizontes, bons ares, e eu estou em todos os lugares, flor e fumaça. Tão perto. Tão longe. Aqui. E se os pudessem ser sempre ici. Recolher todos os pedaços de mim. Não. Melhor soprar, inspirar, respirar, enfim. Mesmo porque há saudade, palavra que não nos deixa expirar, pode até sufocar, mas não nos deixa expirar.

(pelo sempre e por tudo, obrigada, Todos-Vocês, espalhados por essas tantas palavras, uns mais fáceis de encontrar, outros menos, todos presentes)

(pelo hoje e pelo Bowie, pelo Milton e pelo Boy George, obrigada, Chico)
“Todos os pássaros, anjos dentro de nós.”
(pelo hoje e pelo ontem e pelo Peter Shaffer, obrigada, Si, obrigada, Beto)
“It's all right here in my noodle. The rest is just scribbling.”
(pelo hoje e pelo amanhã e pelo flashback, obrigada, Nê)
Of course we will survive. Survive and be Saturday night.

;)

(explícitos: Milton Nascimento e Peter Shaffer / implícitos: Gloria Gaynor e Bon Jovi!)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

É melhor viver


Amigo (muito obrigada, Chico) de passagem pela cidade, cinema e DVDs combinados pelo MSN, o horário descarta Os Produtores, sugestão minha, sugestão dele, o documentário sobre o Vinicius. O horário, de novo, e esbarramos no King Kong, mas, salvos por uma ausência, devoramos hora e meia em livros e pastéis. Vinicius, enfim. Muxoxo contido no início (Camila Morgado?...), risada aberta no final (que, não, não vou estragar). Lembranças (Fernanda, seu poeta!, Leonardo, sua cantora!, Cristina, sua música!, Pessoal, nossos trabalhos!, seu livro de que me apoderei, Mãe!, Meninos, nossas aulinhas!) e encontros (o Marchezan e a Marchezan, minha pós, minha graduação) ao acaso. Tanta coisa que não sei. Tanta coisa que posso aprender.
Cito do filme,
Amigo você não faz, amigo você reconhece.

Cito de um livro,

A homenagem foi simpática, mas no meio daquilo tudo comecei a ser tomado por uma sensação estranha. Aqueles rapazes todos que estavam ali, cada um com a sua personalidade própria - João gostando de romance Lolita, Pedro detestando; Luís preferindo mulatas, Carlos louras; Francisco acreditando em Karl Marx, Júlio em Jânio Quadros; Kimura preferindo filme de mocinho, Giovanni gostando mais de cinema francês - já não os tinha visto eu em outras circunstâncias, em outros tempos? Aquele painel de rostos desabrochando para a vida, aqueles olhos sequiosos ao mesmo tempo de amor e de conhecimento, não eram eles o primeiro plano de uma imagem que ia se perder no vórtice de uma perspectiva interminável, como num jogo de espelhos? Atrás de cada uma daquelas faces não havia o fotograma menor de outra face, como ela ávida de saber o porquê das coisas, e atrás dessa outra, e mais outra, e outra ainda? (...)

Qual daqueles moços seria um dia ministro? Qual seria assassino? Quem, dentre eles, trairia primeiro o anjo de sua própria mocidade? Qual viraria grã-fino? Qual ficaria louco?

Tive vontade de gritar-lhes: "Não acreditem em mim! Eu também não sei nada! Só sei que diante de mim existe aberta uma grande porta escura, e além dela é o infinito - um infinito que não acaba nunca! Só sei que a vida é muito curta demais para viver e muito longa demais para morrer!"

Mas ao olhar mais uma vez seus rostos pensativos diante da canção que lhes falava das dores de amar, meu coração subitamente se acendeu numa grande chama de amor por eles, como se eles fossem todos filhos meus. E eu me armei de todas as armas da minha esperança no destino do homem para defender minha progênie, e bebi do copo que eles me haviam oferecido, e porque estávamos todos um pouco emocionados, rimos juntos quando a canção terminou. E eu fiquei certo de que nenhum deles seria nunca um louco, um traidor ou um assassino porque eu os amava tanto, e o meu amor haveria de protegê-los contra os males de viver.


(trecho extraído de) MORAES, Marcus Vinicius de Melo. "Os Politécnicos". In: ______. Para viver um grande amor. 13a. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 142-143.
Que nos resta, a não ser, gratos, hereges, tomar-lhe a bênção?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Tons de verde

Uma ânsia de andar que deve ser vontade de fugir camuflada. Aos gramáticos de plantão, vontade camuflada ou fugir camuflada, que importa se o resultado é o mesmo. E uma conexão há muito dada como perdida. Amor e ódio, pulsão de vida e pulsão de morte, Eros e Tânatos. Uma mulher, a mulher, tanto e tão pouco. Tanto. E ódio nem é ódio, é licença poética. Deveria expor mais meu sorriso e conter mais meus dentes. Mas não quero falar sobre isso agora. Ela merece bem mais. De resto, pés calejados, dinheiro rasgado, macarrão japonês alho-e-óleo, vinho barato. Aniversário de saopaulo, interurbano a centavos, Cortázar e Harry Potter ao telefone, o futuro e o passado, e o presente sou eu em minha cama matando as saudades do que ainda vai ser e antecipando o que já foi. Tão clichê. Mas eu sei que a vida é euforia (ou não é vida, talvez Breton em uma autoparódia que lhe atribuo eu, “La vie sera EUPHORIQUE ou ne sera pas.”)

(eu disse que o palmeiras, não disse?)

Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: "e essa agora? que devo fazer?" Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.
.
(créditos explícitos: Clarice – ainda ela / créditos implícitos: Freud e Breton)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Leibniz e a Transcendência do Amor na Polinésia

Dia dedicado ao alemão: a língua por inércia, Strauss por coincidência, Nietzsche por deliberação. Tanta coisa que não conheço. Apesar disso, amor. E medo. Exatamente como no clichê, ou no conto. (saudade, Meninas, companheiras de aula, saudade, Fabinho, mentor musical, saudade, Beto, irmão de leituras) Tanta saudade. Pra enganar, vestidos e torradas com duas das mulheres-da-minha-vida. Mas o alemão, ele. Vontade de mundo. Amor. E sem holocaustos.

(Strauss pode não ser mesmo digno, mas Zaratustra disse duas frases e Nietzsche foi salvo: “Meus amigos, não quero ser misturado e confundido. / Há aqueles que pregam minha doutrina da vida: e ao mesmo tempo são pregadores da igualdade e tarântulas.”)

(créditos: Clarice – sim, ela de novo – e Nietzsche)

já sei: você tropeçou aqui ao procurar “A quinta história” ou Assim falou Zaratustra...

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Nem aí

Diazinho vazio, tentando preencher este blog com inutilidades, uma espécie de retrospectiva 2006 fora de época, posts do dia e de dias atrás, mas o engraçado foi ouvir o tô-nem-aí de comentaristas de futebol corinthianos, o time está preocupado é com a libertadores, pra que campeonato paulista, principalmente quando o verdão está na liderança, sim, palmeirense pra agradar ao meu daddy querido, na verdade tô-nem-aí pra esportes em geral, quem diria que isso seria assunto abordado aqui.
.
pois toda essa beleza que te veste
vem de meu coração que é teu espelho
o meu bem é bem melhor que tudo posto
.
(créditos: Shakespeare, Baleiro e, por que não?, Wanderléa)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

All connected

Cerveja e blues no SESC.
“Trancado dentro de mim mesmo, eu sou um canceriano sem lar.
Água, amendoim, chocolate e esperando-metal-e-hardcore em Américo.
“Was all this for real or just some kind of hell?”
Come and visit and leave your e-mail address for contact no Centro.
Hi. Hi. Thank you. No, thank you.
Back home to find, by (an interesting) chance, a (true) link na net.
“E quase paro de sentir fome.
(link do link, intertextos:
“Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento.)
.
(créditos: Raul, Iron, Caio, Clarice)

domingo, 22 de janeiro de 2006

I feel good

(carro) Thank you, Dad. (porque, claro, preciso de superproteção) Qualquer coisa, você pega um táxi lá também.

(ônibus) Thank you, Mr. Driver. (porque, claro, preciso de ajuda) Mas o importante é que nós chegamos.

(ônibus) Thank you, Another Mr. Driver. (porque, claro, preciso de auto-afirmação) Espera que já vou imprimir sua passagem.

(táxi) Thank you, Mr. Taxi Driver. (porque, claro, preciso de autoridade) Deixa eu ver... R$17,00.

(carro) Thank you, Mr. VIP. (porque, claro, preciso de simpatia) Pensei que fosse mais longe, porque você disse...

(e você, Primeira Mulher, saiba que pequena sou eu, você é gigante nos seus quase cinqüenta anos, seus dois filhos e suas três sacolas plásticas, o reflexo do meu rosto no vidro me denuncia, não tenho sacolas plásticas, nem filhos, nem quase cinqüenta anos, e me pergunta, lado a lado com o reflexo do seu rosto no vidro, o que terei quando nossos rostos, num futuro menos distante do que parece, lembremo-nos, objects in the mirror are closer than they appear, se confundirem)

(e você, Segunda Mulher, dei-lhe uma pista logo de saída, ainda assim você não conseguiu me reduzir ao meu tamanho real, tão encolhida em sua própria pequenez, sem saber que, sentadas lado a lado esperando cada uma o seu ônibus, compartilhamos muitos caminhos, talvez mesmo o do sangue que segue rumo ao sul e o do sol que, na minha pele, só se vê pelo avesso, algo de parentesco adivinhado, o segundo reconhecimento do dia, apesar dos repelir-se)

i get on the train and i just stand about now that i don’t think of you. i keep falling over, i keep passing out when i see a face like you. what am i (are we?) coming to? i'm gonna melt down.
.
(créditos: a mim e ao radiohead)

sábado, 21 de janeiro de 2006

With a little help from my friends

a 1a. faz
... zzz ...
(sonhos dos quais não me lembro)
a 2a. faz
tririririm-tririririm
(sim, sim, até)
e a 3a. faz
tango no teto
(fazer o quê?)
.
e duas fazem a quarta numa sexta como hoje

Du
Du hast
Du hast mich
Du hast mich
Du hast mich gefragt
Du hast mich gefragt
Du hast mich gefragt und ich habe nichts gesagt

Mas o que eu vou dizer você nunca ouviu de mim
pois minha solidão
foi não falar
mostrar vivendo
quantas vezes eu quis me abrir
e as portas do meu coração
sempre pediam

E teve Clarice também, mas esta eu deixo para depois, que são muitas.

(sim, créditos: Ué e eu na 1a., Fábio e rammstein na 2a., Chico e milton na 3a.)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Pingos nos is

(já que não consegui as fotos que realmente gostaria de, num contraste-com-pretensões-a-choque-artístico, mostrar – um “anônimo” brutalmente assassinado, outro “anônimo” brutalmente assassinado, ainda outro “anônimo” brutalmente assassinado, James D'Arcy mais lindinho, Natalia Verbeke mais espanhola e Gael García Bernal mais gatinho...)



“Era melhor dar um tiro na cabeça do sujeito.”
(ou algo assim)

Mas gostei da abertura, da Rua das Flores e do Dráuzio-Varella-mais-ele-mesmo.
(ah, e dos envelopes também)

comentário meu em breve, espero

“::tom de não-acredito:: Você não vai mostrar isso, vai? (linha direta na tv) :: tom de hunf:: Programa pra zé-povinho.”
(ou algo assim)


“I mean, this whole... latino thing, it’s so now.”
(exatamente assim)


Mas não gostei da abertura, do beijo so-fake e do mais-sexo-menos-flamenco.
(ah, e da pouca latinidade da trilha sonora também)

comentário meu em breve, espero

“I did it because people like me get to play with the lives of people like you.”
(exatamente assim)

(Kit) ‘Cause moments don’t last.
(Carmen) They’re not meant to.

(créditos: eu entre Paulo Sacramento e Matthew Parkhill)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

As old as time


Poderia começar isto aqui com uma citação de um velho diário meu (é, daqueles de papel mesmo, coisa de menina nascida no início dos oitenta, no blogs yet), dia 23 de outubro de 1992, sexta-feira, 22h07, mas vou me poupar ao extremo-do-ridículo (sei que esta minha nova modalidade de diário não deixa de ser ridícula também, mas tento não chegar ao extremo, juro).

Such a foolish little girl...

07 de novembro de 2005, segunda-feira, madrugada: “(...) mas também me agrada a idéia de poder reler e recriar tudo isso, imagens da nossa juventude, com olhos futuros, retinas certamente mais fatigadas, porém menos ingênuas talvez, espero, só me incomoda cogitar a hipótese de que pode ocorrer o mesmo que ocorre com diários, lugar em que envergonho a mim mesma e diante de mim mesma, que agora não sou aquela mesma, embora ainda o seja, mas outra, e sempre a mesma, maldição, vontade de rir até meu riso botar fogo em tudo.” (btw, remember, You there: “Vá, Horácio, vá, só não se perca, ainda que não se encontre.”)

Ou, como disse uma outra foolish little girl... “i’m 13 again, am i 13 for good?”

Como me sinto ao assistir, pela enésima vez, a um dos meus filmes favoritos, mais de treze anos depois de tê-lo visto no cinema? Em uma palavra, velha.

“outra, e sempre a mesma”

Outra foto, aproveitando o gancho da “maldição”:

(Narrator) Once upon a time, in a faraway land, a young prince lived in a shining castle. Although he had everything his heart desired, the prince was spoiled, selfish, and unkind. But then, one winter's night, an old beggar woman came to the castle and offered him a single rose in return for shelter from the bitter cold. Repulsed by her haggard appearance, the prince sneered at the gift and turned the old woman away. But she warned him not to be deceived by appearances, for beauty is found within. And when he dismissed her again, the old woman's ugliness melted away to reveal a beautiful enchantress. The prince tried to apologize, but it was too late, for she had seen that there was no love in his heart. And as punishment, she transformed him into a hideous beast and placed a powerful spell on the castle and all who lived there. Ashamed of his monstrous form, the beast concealed himself inside his castle, with a magic mirror as his only window to the outside world. The rose she had offered was truly an enchanted rose, which would bloom until his 21st year. If he could learn to love another, and earn her love in return by the time the last petal fell, then the spell would be broken. If not, he would be doomed to remain a beast for all time. As the years passed, he fell into despair and lost all hope. For who could ever learn to love a beast?

Gostaria de ter encontrado as outras imagens dos vitrais do castelo, aquelas que contam a história do filme como os vitrais das igrejas contam a história de Cristo. Esse
Google só me decepciona. Mas o imdb é uma fonte valiosa de citações de filmes.

(Gaston) This is the day your dreams come true.
(Belle) What do you know about my dreams, Gaston?


(Belle) I want adventure in the great wide somewhere. I want it more than I can tell. And for once it might be grand, to have someone understand. I want so much more than they've got planned.

(Beast) Oh, it's no use. She's so beautiful, and I'm... Well, look at me!

(Villagers) We don't like what we don't understand, in fact it scares us, and this monster is mysterious at least...

Abaixo, algumas passagens memoráveis, impagáveis, de um senso de humor... Bom, a primeira animação indicada ao Oscar de Melhor Filme (perdeu para O Silêncio Dos Inocentes), preciso dizer mais?

(Gaston) How can you read this? There's no pictures!
(Belle) Well, some people use their imagination.


(Gaston) It's not right for a woman to read. Soon she starts getting ideas, and thinking...
(Belle) Gaston, you are positively primeval.
(Gaston) Why, thank you, Belle.


(Gaston) I'd like to thank you all for coming to my wedding. But first I'd better go in there and propose to the girl.

(Gaston) Lefou, I'm afraid I've been thinking...
(Lefou) A dangerous pastime.
(Gaston) I know.


(Monsieur D'Arque) So you want me to throw her father into the asylum unless she agrees to marry you. Oh, that is despicable. ::chuckling:: I love it!

(Featherduster) ::to Lumière:: I've been burnt by you before!

(Cogsworth) Enchanted? He-he, ha-ha! Who said anything about the castle being enchanted? Ha-ha-ha... ::to Lumière:: It was you, wasn't it?

(Beast) I want to do something for her... But what?
(Cogsworth) Oh, there's the usual things: flowers, chocolates, promises you don't intend to keep...


(Lumière) ::trying to prepare the Beast for his dinner with Belle:: There you are! You look so... o...
(Beast) ::fur done up in curls and bows:: Stupid.


(Villagers) Here we come, we're fifty strong, and fifty Frenchmen can't be wrong...

(Cogsworth) Well, Lumière, old friend. Shall we let bygones be bygones?
(Lumière) Of course, mon ami. I told you she would break the spell!
(Cogsworth) I beg your pardon, old friend, but I believe
I told you
.
(Lumière) No, you didn't.
I told you
!
(Cogsworth) You most certainly did not, you pompous, paraffin-headed peabrain!
(Lumière) En garde, you-you overgrown pocket watch!


(Chip) Do I still have to sleep in the cupboard?

Mas engraçado mesmo é ouvir a versão em francês da canção-tema!... Muito ruim (aliás, ouvi outro tema da Disney em francês e detestei também, que coisa. O que será que acontece com eles, os franceses?). Em português ficou bem mais bonitinha (realmente acho a nossa dublagem de muito boa qualidade, via de regra e considerando-se apenas o quesito interpretação, não tradução, claro). Falando em dublagem, nunca consigo me lembrar se o cara que faz a voz-falada do Gaston na versão brasileira é o mesmo que faz a voz-cantada da Fera, ou se ele faz a voz-cantada do Gaston e a voz-falada da Fera... Preciso prestar mais atenção da próxima vez, ao filme e às letrinhas finais. Só sei que eles compartilham uma de suas vozes, além do interesse pela mocinha da história. Cultura inútil nunca é demais
.


(créditos a Alanis Morissette, aos responsáveis pelo roteiro de A Bela... e a mim)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Allons, enfants...

Dia dedicado ao francês, alors...

Parle-moi (fale comigo)
- Isabelle Boulay -

Je ne sais plus comment te dire
(não sei mais como lhe dizer)
Je ne trouve plus les mots
(não encontro mais as palavras)
Ces mots qui te faisaient rire
(as palavras que faziam você rir)
Et ceux que tu trouvais beaux
(e as que você achava bonitas)
J'ai tant de fois voulu t'écrire
(tantas vezes quis lhe escrever)
Et tant de fois courbé le dos
(e tantas vezes desisti)
Et pour revivre nos souvenirs
(e para reviver nossas lembranças)
J'ai même aussi frôlé ta peau
(até mesmo rocei a sua pele*)
Oh, dis-moi
(oh, diga-me)
Regarde-moi
(olhe para mim)
Je ne sais plus comment t'aimer
(não sei mais como amar você)
Ni comment te garder
(nem como prender você)
Parle-moi
(fale comigo)
Parle-moi
(fale comigo)
Je ne sais plus pourquoi t'aimer
(não sei mais por que amar você)
Ni pourquoi continuer
(nem por que continuar)
Tu es là, mais tu es si loin
(você está aqui, mas está tão longe)
De moi
(de mim)
Je ne sais plus comment poursuivre (não sei mais como levar adiante)
Cet amour qui n'en est plus
(este amor que não o é mais)
Je ne sais plus que souffrir
(não sei mais o que sofrer)
Souffrir autant que j'y ai cru
(sofrer tanto quanto acreditei nele*)
Mais je sais qu'il me faut survivre
(mas sei que preciso sobreviver)
Et avancer un pas de plus
(e avançar mais um passo)
Pour qu'enfin cesse la dérive (para que enfim cesse a deriva)
Des moments à jamais perdus
(dos momentos perdidos para sempre)
Oh, dis-moi
(oh, diga-me)
Regarde-moi
(olhe para mim)
Je ne sais plus comment t'aimer
(não sei mais como amar você)
Ni comment te garder
(nem como prender você)
Oh, dis-moi
(oh, diga-me)
Regarde-moi
(olhe para mim)
Il y a la vie dont on rêvait
(há a vida com a qual sonhávamos)
Celle qui commençait
(a vida que estava começando)
Parle-moi
(fale comigo)
Parle-moi
(fale comigo)
Je ne sais plus pourquoi t'aimer
(não sei mais por que amar você)
Ni comment continuer
(nem como continuar)
Oh, dis-moi
(oh, diga-me)
Oh, dis-moi
(oh, diga-me)
Dis-moi si tout est terminé
(diga-me se está tudo acabado)
Si je dois m'en aller
(se devo ir embora)
Oh, parle-moi
(oh, fale comigo)
Parle-moi
(fale comigo)
Regarde-moi
(olhe para mim)
Regarde-moi
(olhe para mim)
Regarde-moi
(olhe para mim)
Regarde-moi
(olhe para mim)
Os *s representam dúvidas de tradução. Algumas coisas são escolhas, outras são erros mesmo. Correções e/ou sugestões são bem-vindas.

(exercícios com essa letra: ver fiche pédagogique)

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Visões críticas

Por que não gosto do Rubens Ewald Filho:
.

(Cannes 2004) “Se alguém já assistiu uma entrega de prêmios em Cannes, sabe que nada tem a ver com o Oscar, que é um exemplo de organização. Aqui é tudo bagunçado, pretensioso e confuso. Americanos sabem fazer essas coisas. Franceses são caipiras.

Nunca assisti ao festival de Cannes. Mas conheço uns caipiras super organizados. Não eu, claro, que sou a desorganização em pessoa. Française, moi?

(e ele chamando a Björk de retardada? tiraram a página do ar, mas ainda há algo aqui
)

(Oscar 2005) “O único problema que vejo no filme é comercial, já que parece ser ‘filme de homem’, quando na verdade é ‘de mulher’; precisa mesmo dos prêmios para ser mais bem vendido e apreciado. E também merece o prestígio que está conseguindo.”

Tampouco assisti a Menina De Ouro. Mas conheço uns “homens” que curtem filme “de mulher”. E não estou me referindo a filme de mulher pelada. Curioso?

(pra piorar, ele nem usa as “politicamente corretas” aspas na versão do seu site
)

(Globo de Ouro 2006) “Desde quando isso me deixa constrangido? Se ela errar, eu corrijo, estou ali para isso. (risos) Não consigo ter uma visão crítica, só consigo vê-la como uma colega de trabalho. E ela foi muito agradável, muito gentil comigo. Conseguimos um clima de afinidade super fácil.”

Assisti somente a trechos do Globo de Ouro deste ano. Mas conheço gente que poderia se candidatar ao cargo de corrigir-o-Ewald-Filho. Visão crítica pra quê, né?

(mais sobre o REF comentando o GdO aqui
)


Ah, mas gostei do pouco que vi do Christian Petermann (espero que seja este mesmo o nome) no programa Todo Seu, da Gazeta. Será que ele é bom mesmo? Pelo menos, arrogante não me pareceu...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

De poesia e fingimento

Inquietação o dia todo, coceira nas pontas dos dedos. Uma Entrevista, uns (des)encontros... O faz-de-conta, enfim. “Mas nada de fiat lux, a escuridão vence-se palavra por palavra e somente assim (...).” Só não sei se sirvo pra fingir. Bem que gostaria.

Você só me fez mudar
Mas depois mudou de mim
Você quer me biografar
Mas não quer saber do fim


Ou:

There are many in your life
And many still to be
Since you are a shining light
There's many that you'll see


Hum, nem tinha reparado em tantas rimas, que coisa. E, se conheço essa primeira canção, não é por causa de malhação nenhuma, e sim de amigos que ouvem sons-bons-dos-quais-a-grande-mídia-quer-se-apoderar. But, anyway, nothing really matters in the end, I guess.

(créditos a mim mesma, ao Gram e ao Leonard Cohen cantado pelo Martin Gore – valeu, Fábio!)

domingo, 15 de janeiro de 2006

On the road again

Tentativa de quebrar o gelo com uma piada meio sem graça, e é tão bonitinho ouvi-los dizer que de mim, sim, sentiram saudades, ainda que eu saiba que não foi bem assim, claro, afinal, todo mundo precisa de um tempo, inclusive ou principalmente eu, dependendo do ponto-de-vista, mais ou menos egoísta, e quem sou eu para que sintam a minha falta, mas gosto tanto deles, acho que o apesar-de-tudo pode ser relevado pelos dois lados, no fim das contas.

(e dormir-e-comer na casa da vó é quase sempre atracar num porto muito seguro)
meu caminho é meio perdido, mas que perder seja o melhor destino
(créditos: Ana Carolina - e eu nem curto muito ela)

sábado, 14 de janeiro de 2006

Boîtes II

Mais caixas.



Uma para as correspondências passadas (saudade sempre, Fê!...) e futuras (já saudade, Cris!...), todas passadas por serem papel.




Outra para as curiosidades passadas (a inescapável São Paulo) e futuras (escapar para onde?), todas futuras por serem cultura.


Preciso me lembrar de comprar um tubo de cola. Mania de querer tudo junto.
CRÉDITOS: Imagens copiadas do site da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés Ltda., com a intenção de colaborar com a divulgação de um trabalho que merece ser reconhecido, e não de infringir quaisquer copyrights. Procurando qualidade? Visite o site. Procurando filantropia? Visite outro site.
“Os artistas associados recusam caridade, preferindo reter seu respeito próprio competindo em termos iguais com artistas normais; eles fazem de tudo para assegurar que sua Associação seja entendida como um trabalho, um negócio, e que não seja confundida com entidades filantrópicas, colorindo assim a apreciação pela sua arte por sentimento.”

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Cantos para caixinhas sem música

Cheia de carinho e fúria, me ponho a remexer papéis. Reciclagem, rascunho, resumo da minha vida. Um canto para os primeiros, cantinho-preserve-a-natureza, um canto para os segundos, colocar-onde-tudo-isso, um canto para os terceiros, caixas-remodeladas-e-reaproveitadas. Centavos a ganhar, horas a perder. Consciência limpa por um lado e pesada por outro, me pergunto agora por que fazemos de limpo e pesado antônimos se poderíamos ter consciências leves ou sujas. Talvez mesmo leves e sujas. Ah, não, não vi Coisas Belas e Sujas, não ainda, mas preciso ver. Mesmo porque virei fã da Tautou, Amélie, claro, já clássico, mas também Bem Me Quer, Mal Me Quer, belas curiosidadezinhas. Mas o que importa é a conservação do meio-ambiente e da memória. Economizar recursos. Naturais, mentais, financeiros, exatamente nesta ordem. Quem me dera fazer meu pai compreender a gravidade de coisas simples. Torneira pingando por dias pode não significar muito para o bolso dele, embora deveria, já que não somos ricos, mas significa muito para o nosso planeta. Papel acumulado por anos pode não significar nada mais que tralha para ele, embora deveria, já que somos pai-e-filha, mas significa nada menos que tesouro para mim. Para o bem e para o mal, e talvez mesmo nem para o bem, nem para o mal, mas para algo além e/ou aquém, tanta coisa pequena gerando tanta coisa grande.

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi

ou

És grande, Zé Ninguém, quando cantas as antigas canções do teu povo ou danças ao som do acordeão, porque os cantos do povo são pacíficos, e são-no em todos os lugares do mundo.

(créditos: Oswald de Andrade – ei, Pessoal!... – e Wilhelm Reich – ei, Mulheres!...)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Briga de gigantes

Juro que tento dormir à noite, como a maioria das pessoas.

Mas, quando percebo que não adianta insistir, levanto e procuro algo de útil para fazer.

E a escolha de hoje foi, como há alguns dias vem sendo, um filme.

Devo ter visto no cinema também, mas não me lembro. Comprei o DVD meio que na empolgação, nada contra o preço, nada contra o filme... E não me arrependo. Sem dúvida, é um dos meus vale-a-pena-ver-de-novo, pelo menos pela atuação do Al Pacino.

(coincidências: eu ter visto Perfume de mulher recentemente; Al Pacino exibindo seus dotes de dançarino em ambos os filmes, tango e flamenco – flamenco mesmo? bad memory; o último filme-em-língua-inglesa ao qual assisti antes de O advogado..., Entrevista com o vampiro, também se estruturar em torno do “diabólico”; e algumas outras que não percebi ainda)

Estava até conversando com um amigo (se é que posso tomar a liberdade de chamá-lo assim) pelo MSN uns dias atrás (dias atrás ao dia de hoje, que não é 11/01/2006, já que todos os posts anteriores a “Nem aí” são, digamos, retrospectivos – espero chegar logo ao dia um!) sobre esse filme e ele me disse preferir Coração satânico e a atuação de Robert De Niro como o coisa-ruim a O advogado... e a atuação de Al Pacino no mesmo (mesmo entre aspas, claro, por se tratar de filmes diferentes) papel. Coração... vi já começado, madrugada alta, desinteresse. Logo, preciso rever. Mas não tive exatamente uma boa impressão. A história é interessante, claro, talvez até mais do que a da versão-telona de O advogado..., mas, não sei, acho que o meu sono. E me lembro de ter pensado “ah, o Pacino fez isso melhor”. Agora, resta a dúvida.

Pares de citações dos dois filmes, da boca dos dois demônios:

(Kevin Lomax) What about love?
(John Milton) Overrated. Biochemically no different than eating large quantities of chocolate.

(John Milton) Vanity. Definitely my favourite sin.

(Louis Cyphre) No matter how cleverly you sneak up on a mirror, your reflection always looks you straight in the eye.

(Louis Cyphre) They say there's enough religion in the world to make men hate each other, but not enough to make them love.

Fico com a primeira de cada um, principalmente com a primeira do primeiro.

(e me pergunto se... não, não deve ter sido mera coincidência, ainda mais por se tratar também de um livro, o que eu não sabia, certamente a inspiração para o nome do diabo em O advogado... guarda uma relação muito provavelmente irônica com o do poeta de Paradise Lost, John Milton também, que ainda não li)

(ah, mas fiquei mais curiosa ainda agora que descobri que o diretor de Coração... é o Alan Parker, que conheço de The Wall)

(e pensar que ambos, De Niro e Pacino, foram cogitados para o papel do pobre-coitado em Coração..., curioso, sim, eu consulto o imdb, consulto e recomendo)

(ah, e eu adoro o nome Lúcifer, sério-seríssimo, mas não curti muito o trocadilho Louis Cyphre, seria quase como eu inventar uma personagem que se chamasse, digamos, Lúcio Fernando, nome duplo digno de novela mexicana, por sinal, sem ofensa a ninguém, claro)

(créditos aos roteiristas de O advogado... e de Coração...)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

each morning i get up i die a little

“É triste saber que morremos todos os dias em células, mas é muito lindo saber que nascemos nos olhos de quem nos vê pela primeira vez.”

Nunca tinha me despedido para tão longe antes.

Se não choro é por saber que vivemos uma nos olhos da outra até a nossa última morte.

Obrigada por esta e todas as outras lições, minha amiga.

(não recomendo a Nobel porque eles não dão desconto para pagamento à vista, mas há um vendedor da unidade do Lupo que merece ser reconhecido pela sua solicitude, não me lembro do seu nome, Pedro, talvez, mas acabei ficando com um CD de música-francesa-em-versão-instrumental-arranjada-por-um-brasileiro mais pela qualidade do atendimento do que da música em si, não me lembro de terem feito o impossível por mim como consumidora antes)

e eu gosto tanto do Queen, valeu, Nê, mas preciso é comprar um DVD pra mim, mesmo

s'il n'y a plus d'avenir, il nous reste un souvenir
(se não há mais futuro, resta-nos uma lembrança)

(vontade de traduzir livremente estes versos para algo como, “se não há mais esperança, resta-nos uma lembrança”, rima, pobre, é verdade, mas rima, e sete sílabas poéticas cada um, sem grandes alterações de sentido, legalzinho)

(ah, o título: “cada manhã em que me levanto eu morro um pouco”)
(créditos: Queen, Cris Maldonado e Charles Aznavour – na verdade, Yves Stéphane?)

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Faixa interativa

é a última vez que vamos todos juntos ao jaraguá, a última vez desta sua primeira vinda, pelo menos, nunca vi um shopping parecer lugar tão nostálgico, acho que nem o famoso milk shake de ovomaltine me tiraria esse gosto da boca, mas virar a madrugada gravando mais um pouquinho daqui e de mim para você é bom, adorei a coletânea mais antiga do titãs, coisa que vai fundo, detestei a estréia da maria rita, coisa que não sai da superfície, não da minha, pelo menos, preciso ouvir de novo pra ver se funciona, a letra de hoje escolhi pelo tema e dedico a você:

Disneylândia - Titãs - Filho de imigrantes russos casado na Argentina com uma pintora judia casou-se pela segunda vez com uma princesa africana no México. Música hindu contrabandeada por ciganos poloneses faz sucesso no interior da Bolívia. Zebras africanas e cangurus australianos no zoológico de Londres. Múmias egípcias e artefatos incas no museu de Nova York. Lanternas japonesas e chicletes americanos nos bazares coreanos de São Paulo. Imagens de um vulcão nas Filipinas passam na rede de televisão em Moçambique. Armênios naturalizados no Chile procuram familiares na Etiópia. Casas pré-fabricadas canadenses feitas com madeira colombiana. Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong Kong e produzem com matéria-prima brasileira para competir no mercado americano. Literatura grega adaptada para crianças chinesas da comunidade européia. Relógios suíços falsificados no Paraguai vendidos por camelôs no bairro mexicano de Los Angeles. Turista francesa fotografada seminua com o namorado árabe na Baixada Fluminense. Filmes italianos dublados em inglês com legendas em espanhol nos cinemas da Turquia. Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné. Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul. Pizza italiana alimenta italianos na Itália. Crianças iraquianas fugidas da guerra não obtêm visto no consulado americano do Egito para entrarem na Disneylândia.

(E viva a globalização!)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Enovelar-se

(Ricky) Intenté hablar contigo, pero no me dejaste. Así que he tenido que raptarte para que puedas conocerme a fondo. Estoy seguro de que entonces te enamorarás de mí, como yo lo estoy de ti. Tengo 23 años, y 50 mil pesetas. Y estoy solo en el mundo. Intentaré ser un buen marido para ti y un buen padre para tus hijos.

Ou:

(Máximo) Pobrecilla.
(Angelina) Más que una historia de terror parece una historia de amor.
(Máximo) A veces se confunden, Angelina.


O último filme deste nosso pequeno Festival Pedro Almodóvar. Já disse que acho isso engraçado, você vir do México para assistir a quatro almodóvares no Brasil. Me pergunto o que veremos se (se não, quando é melhor) um dia eu for visitá-la, filmes portugueses? Agora penso que eu deveria ter alugado algumas amostras da nossa sétima arte, mas Almodóvar estava à mão, Almodóvar é qualidade quase certa, e o cinema brasileiro, como você bem comentou... É claro que há coisas boas, talvez eu devesse ter me esforçado mais e saído à caça.


Gosto muito do início, com o efeito da pintura dando lugar ao edifício, pintura que logo vemos na sala da diretora, quem sabe se de autoria do próprio Ricky, ela menciona desenhos entre os serviços prestados, se não me engano, não apenas sexo, e essa abertura lembra um pouco os delírios de uma das irmãs em Maus hábitos, bom ter assistido a este filme antes de rever Ata-me!, antes de que me esqueça, cabe ressaltar dois trechos desse primeiro diálogo:

(Directora) Eres libre, Ricky. ::entre lágrimas:: Y ser libre significa también estar solo.

(Directora) ¿Qué piensas hacer?
(Ricky) Trabajar y formar una familia. Como una persona normal.
(Directora) Tú no eres una persona normal.


E me pergunto quem é, mas isso não vem ao caso, o próximo diálogo tem uma passagem muito boa também, pena que vi sem legendas e agora não posso transcrevê-la exatamente como é por inteiro, espanhol muito fraquinho o meu, ao ouvir o protagonista dizer que já pode se incorporar à sociedade, um senhor colega de quarto seu responde algo como, “La sociedad, una vez yo también pertenecí a la sociedad, y era una sociedad gastronómica, pero un día me intoxicaran...”, achei ótima a comparação, uma sociedade que nos intoxica.

Dois detalhes em vidro, pena que não tenho as fotos, o primeiro é o “intertexto” entre a cena em que Ricky pára diante de uma vitrine e observa com ar apaixonado, apaixonado inclusive no sentido original do termo, doença, no caso, loucura, uma caixa de bombons em formato de coração e a cena em que Angélique, a protagonista de Bem me quer, mal me quer, também pára diante de uma vitrine e observa com o mesmo ar apaixonado vários objetos em formato de coração, e para bom entendedor, só pode ser intencional, coincidência seria demais, mas o outro detalhe é o fato de, ao sair da loja com a tal caixa de bombons comprada e um canivete roubado, Ricky se sentar no fundo do ônibus e podermos ler às suas costas o sinal de “salida de socorro”, é por essas e outras que acabo me apaixonando, tão importantes os detalhes, o Almodóvar é mesmo genial.

Antes das citações finais, uma do perseverante Ricky, “¿Cuánto tiempo vas a tardar en enamorarte de mí? ¿Cuánto necesitas para estar segura de que nadie te va a querer como yo?”, e outras imagens que, agora sim, considero coincidência mesmo, mas vai saber também, a do rolo de corda sobre a caixa em formato de coração no filme e a do coração real amarrado com cordas para ilustrar “Black tangled heart”, silverchair, com minúscula como li em algum lugar que eles preferem.

No já mencionado Maus hábitos, recordemos, há uma canção que meio que resume o filme, a de Ata-me! não chega a tanto, mas é bonitinha:


Resistiré
- Dúo Dinámico -

Cuando pierda todas las partidas
Cuando duerma con la soledad
Cuando se me cierren las salidas
Y la noche no me deje en paz

Cuando sienta miedo del silencio
Cuando cueste mantenerse en pié
Cuando se rebelen los recuerdos
Y me pongan contra la pared

Resistiré, erguido frente a todo
Me volveré de hierro para endurecer la piel
Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
Soy como el junco que se dobla
Pero siempre sigue en pié

Resistiré, para seguir viviendo
Soportaré los golpes y jamás me rendiré
Y aunque los sueños se me rompan en pedazos
Resistiré, resistiré...

Cuando el mundo pierda toda magia
Cuando mi enemigo sea yo
Cuando me apuñale la nostalgia
Y no reconozca ni mi voz

Cuando me amenace la locura
Cuando en mi moneda salga cruz
Cuando el diablo pase la factura
O si alguna vez me faltas tú

Resistiré, erguido frente a todo
Me volveré de hierro para endurecer la piel
Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
Soy como el junco que se dobla
Pero siempre sigue en pié

Resistiré, para seguir viviendo
Soportaré los golpes y jamás me rendiré
Y aunque los sueños se me rompan en pedazos
Resistiré, resistiré...

E uma frase, dita pela personagem o-diretor-do-filme dentro do filme, talvez meio que possa resumir o trabalho do próprio Almodóvar, “Cuando se ponen el corazón y los órganos genitales en lo que haces siempre te sale algo personal.”, também copiada sem legendas e provavelmente com algum erro. Agradeço correções.

(hum, e esse “tengo 23 años, y 50 mil pesetas” lembra bastante o “marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”, não?)

(créditos ainda não indicados ao longo do post: Yuyi Beringola e Machado de Assis)

domingo, 8 de janeiro de 2006

Mais que um par de tetas


Visto no cinema, quando eles ainda eram no centro da cidade, antes dessas modas de cinema-no-shopping e igrejas-universais-nos-prédios-antigos, meu terceiro colegial, meus dezessete anos, poucos meses a mais do que Esteban!, meu primeiro ou segundo Almodóvar, coisas de que não se esquece, apesar de eu não me lembrar se já havia assistido a Carne trêmula ou não, agora mais uma boa lembrança para a lista, tê-lo visto novamente com você, minha amiga.

Infelizmente, não conheço nem All about Eve, e mantenho o título original por razões óbvias, nem Música para camaleões, “Cuando Dios le entrega a uno un don, también le da un látigo; y el látigo es únicamente para autoflagelarse.”, nem Um bonde chamado desejo, “Quienquiera que seas, siempre he confiado en la bondad de los desconocidos.”, e cito em espanhol por causa do filme, então deixo minha mania de intertextos um pouco de lado desta vez, vejamos sobre o que mais posso escrever.

As curiosidadezinhas de sempre, ele de azul e ela de vermelho lado a lado no sofá, “cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores”, a cena que se fecha em um close sobre o lado esquerdo do peito do transplantado, uma quase repetição da cena farmácia-tarde-da-noite de Ata-me!, Agrado dizendo que nem o Pitanguy teria feito um serviço tão bom quanto o que Manuela fez ao cuidar das feridas de seu rosto, Manuela estar em outro cômodo e ainda assim saber que Rosa estava prestes a mexer no caderno de notas de Esteban...

E, como não poderia deixar de ser, as citações, minha parte favorita desses posts meio sem pé nem cabeça:

(Manuela) Huma es un nombre muy bonito.
(Huma) Humo es lo único que ha habido en mi vida.

(Manuela) Yo no soy puta. Me han jodido mucho en la vida, pero nunca he sido puta.

(Manuela) Lola tiene lo peor de un hombre y lo peor de una mujer.


Acho que me lembro da reação das pessoas no cinema ao trecho abaixo, ou talvez seja só uma falsa memória, vai saber:

(Manuela) Las mujeres hacemos cualquier cosa con tal de no estar solas.
(Rosa) Las mujeres somos más tolerantes, pero eso es bueno.
(Manuela) Somos gilipollas, y un poco bolleras.


Manuela é mesmo capaz de umas frases, e de uns atos, eu nunca tinha visto alguém ser chamado de epidemia antes, essa coisa de você-não-é-um-ser-humano ainda vai, mas epidemia, que seja, ela tem razão ao menos em uma afirmação, a de que mãe não se escolhe, ainda assim, a de Rosa conseguiu me comover na passagem que segue, pobre mãe, pobre filha:

(Rosa, la madre) Rosa, no sé que hacer. ¿Qué esperas tú que haga?
(Rosa, la hija) Nada, mamá.
(Rosa, la madre) ¿No esperas nada de mí?


É claro que vou terminar isto aqui com as palavras finais do próprio Almodóvar no filme, mas antes quero pagar meu tributo à personagem que mais me cativou nesta segunda vez que a vejo, a travesti Agrado, impecavelmente interpretada por uma mulher, detalhe que eu desconhecia e que me surpreendeu, Antonia San Juan, vale a pena até mencionar o seu nome, já que dos da Cecilia Roth, da Marisa Paredes e da Penélope Cruz todo mundo se lembra, há várias frases que adoraria citar, não o faço porque a falta de legendas torna meu trabalho mais complicado, quem sabe numa próxima vez, o famoso monólogo dela encontrei em um outro blog
e o transcrevo parcialmente e parcialmente modificado, coisa de pontuação de acordo com o que me lembro do ritmo da cena:

(Agrado) Me llaman La Agrado. Porque toda mi vida solo he pretendido hacerle la vida agradable a los demás. Además de agradable, soy muy auténtica. Miren que cuerpo. Todo hecho a medida. [aqui ela faz a “contabilidade” de seu corpo, pulo para poupar espaço e para me poupar, meu espanhol não dá conta de tanta tradução] Bueno, lo que les estaba diciendo, que cuesta mucho ser auténtica, señora, y en estas cosas no hay que ser rácana, porque una es más auténtica cuanto más se parece a lo que ha soñado de si misma.

Merece destaque, não merece? E eu preciso rever minha própria autenticidade com urgência, então. O texto final, uma espécie de posfácio-dedicatória, belíssimo:

(Almodóvar) A Bette Davis, Gene Rowland, Romy Schneider... A todas las actrices que han hecho de actrices, a todas las mujeres que actúan, a los hombres que actúan y se convierten en mujeres, a todas las personas que quieren ser madres. A mi madre.

[traduções, só as menos óbvias desta vez: 1. látigo = chicote; 2. humo = fumaça (humos = presunção); 3. gilipollas = palerma; 4. bollera = lésbica; 5. rácana = pão-dura]

(e tampouco conheço de fato Bodas de sangue, a peça do Lorca que Huma está ensaiando ao final do filme, mas tenho as minhas lembranças dela como Manuela tem as suas de Um bonde..., minha amiga doida Rô e eu tornadas sogra e nora em um sketch, primeira e única vez em que pisei num palco, trabalho para encontrar a voz, a postura, o vestido, faríamos tudo de novo, tenho certeza, só precisaríamos decorar as falas novamente, porque, ao contrário de Manuela...)
(ah, claro, a coincidência de eu também querer escrever todo sobre mi madre, talvez também algo sobre mi abuela, um dia)

(créditos: Truman Capote, Tennessee Williams, Adriana Calcanhotto e Pedro Almodóvar)