sábado, 16 de setembro de 2006

Minha cara II

(I)

Dos dedos pras palmas, das palmas pros pulsos, dos pulsos pra onde?
[coincidência ou whatever: capítulo 80]

(II)

- Está tudo bem?
- Está. (sorriso largo para dar credibilidade ao bem)
- Qualquer coisa, é só falar comigo.
- Obrigada.

- A moça gostaria de mudar de mesa?
- (pára de se abanar por causa da fumaça de cigarro) Ãhn...
- (inaudível) ... aquela mesa ali. (apontando para as proximidades do “palco”)
- Pode ser. (já sentada, sinal de “valeu” ao garçom)

- Quer ouvir alguma coisa?
- (sorriso e sinal afirmativo com a cabeça, típico de quem não entendeu)
- O quê?
- (cara de quem só então entendeu e sinal de “qualquer coisa”)
[coincidências ou whatever: “Wish you were here” e “João e Maria” em seqüência, logo na seqüência]

[coincidência ou whatever: “Stairway to heaven”]
- Você toca?
- Ãhn?
- Você toca?
- Não, infelizmente!... (sorriso largo para reforçar a infelicidade)

- Qual o seu nome?
- (diz o nome e sorri)
- (estende a mão) Achei você legal. Com personalidade.
- Obrigada. (sorriso se-você-soubesse)
- (estende o cartão) Aqui tem meu site, tem várias coisas...
- Legal.
- Dia 29 eu toco lá no SESC, se você puder ir...
- Ah, aqui... (aponta na direção do lugar mencionado, gesto obviamente desnecessário) Vou, sim. (sorrindo e pensando em em que dia da semana cai o dia mencionado)

[no coincidences: a mesma ausência e a mesma presença no final]
- (esperando) Oi.
- (passando) Oi.
- Posso saber seu nome?
- (diz o nome)
- Como?
- (repete o nome, agora de forma mais clara) E o seu? (tentando não parecer antipática)
- (diz o nome e sorri) Você mora por aqui?
- Sou vizinha aqui do bar.
- É que eu sempre te vejo aqui sozinha, com o seu vinho...
- (sorriso pois-é)
- Desculpa o galanteio a esta hora da noite, mas você é muito bonita.
- Obrigada. (sorriso se-você-soubesse) Agora eu tenho que ir, trabalho amanhã cedo. Tchau.
- Tchau.

La pobre se vuelve a casa, etc., pero esto no es lo que yo En fin.
[A infeliz volta para casa, etc., mas isto não é o que eu Enfim.]
.
(créditos: Julio Cortázar – a frase; Fernando de Castro Ferro – a tradução; eu – o respeito à pontuação original)

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

sem título

[a man and an old man:]

- My name is Robertson. I’ve been waiting for someone who hasn’t arrived.
- (laughs) These... (points towards children) I’ve seen so many of them grow up. Other people look at the children and they all imagine a new world. But me, when I watch them, I just see the same old tragedy begin all over again. They can’t get away from us. Is boring.
- Where did you learn to speak English?
- You want me to tell you my life?

- Yes.
- All right. One day, very far from here... (sound and scene fade)

[um homem e um homem velho:]

- Meu nome é Robertson. Estou esperando por alguém que não veio.
- (ri) Esses... (aponta para crianças) Vi tantos deles crescer. Os outros olham para as crianças e todos eles imaginam um novo mundo. Mas eu, quando as observo, vejo apenas a mesma velha tragédia começar tudo de novo. Elas não conseguem nos evitar. É chato.
- Onde você aprendeu a falar inglês?
- Quer que eu lhe conte a minha vida?

- Sim.
- Está bem. Um dia, muito longe daqui... (som e cena somem)

[a man and a recently widowed relatively young woman:]

- So, why don’t you try and forget all about it?
- Yeah. I know it’s stupid. I didn’t care at all before. Now that he’s dead, in some strange way I do. Perhaps I was wrong about him.
- If you try hard enough perhaps you can reinvent him.

(desired but anguished and soon broken kiss)

[um homem e uma mulher relativamente jovem recentemente viúva:]

- Então, por que você não tenta esquecer tudo isso?
- É. Eu sei que é burrice. Eu não me importava nem um pouco antes. Agora que ele está morto, me importo, de um jeito estranho. Talvez eu estivesse errada sobre ele.
- Se tentar bastante, talvez você consiga reinventá-lo.

(beijo desejado, mas angustiado e logo interrompido)

[a man – the one from the “a man and an old man” scene – and a woman:]

- Excuse me. I was trying to remember something.
- Is it important?
- No. (pause) What is it, do you know? I came in by accident.
- The man who built it was hit by a bus.
- Who was he?
- Gaudí. (pause) Come. (another room) He built this house for a corduroy manufacturer. They used this room for concerts. Wagner.
- Do you think he was crazy?
- How could you come in here by accident?
- I was escaping.
- Oh. From what?
- Well, I thought someone might be following me. Somebody who might recognise me.
- Why?
- I don’t know.
- Well, I can’t recognise you. Who are you?
- I used to be somebody else, but I traded him in. What about you?
- Well, I’m in Barcelona, I’m talking to someone who might be someone else, I was with those people but I think I’m going to see the other Gaudí buildings alone.
- All of them?
- They’re all good for hiding in. Depends on how much time you’ve got.
- I have to leave today. This afternoon.
- I hope you make it. People disappear every day.
- Every time they leave the room.

- Goodbye. (already leaving)

[um homem – aquele da cena “um homem e um homem velho” – e uma mulher:]

- Com licença. Estava tentando me lembrar de uma coisa.
- É importante?
- Não. (pausa) O que é isto, você sabe? Entrei por acaso.
- O homem que construiu isto foi atropelado por um ônibus.
- Quem ele era?
- Gaudí. (pausa) Venha. (outro aposento) Ele construiu esta casa para um fabricante de veludo [?]. Eles davam concertos nesta sala. Wagner.
- Você acha que ele era louco?
- Como foi que você entrou aqui por acaso?
- Eu estava fugindo.
- Oh. Do quê?
- Bem, pensei que alguém pudesse estar me seguindo. Alguém que talvez me reconheça.
- Por quê?
- Não sei.
- Bem, eu não reconheço você. Quem é você?
- Eu costumava ser outra pessoa, mas a troquei. E você?
- Bem, eu estou em Barcelona, falando com alguém que pode ser outra pessoa, estava com aquelas pessoas, mas acho que vou ver as outras construções de Gaudí sozinha.
- Todas?
- Todas são boas para se esconder nelas. Depende de quanto tempo você tem.
- Tenho que ir embora hoje. Esta tarde.
- Espero que consiga. Pessoas desaparecem todos os dias.
- Sempre que saem de um lugar.

- Adeus. (já saindo)

[the same man and the same woman:]

- How can I help you?
- How can you help me? It sounds crazy because I can’t explain it. (continues)

[o mesmo homem e a mesma mulher:]

- Como eu posso te ajudar?
- Como você pode me ajudar? Soa loucura porque não posso explicar. (continua)

[yet the same man and woman:]

- Can I ask you one question now?
- One you can, yes.
- Only one, always the same. What are you running away from?
- Turn your back to the front seat.

(she sees the path behind the car)

[ainda os mesmos homem e mulher:]

- Posso te fazer uma pergunta agora?
- Uma pode, sim.
- Só uma, sempre a mesma.
Do que você está fugindo?
- Vire de costas para o banco da frente.

(ela vê o caminho atrás do carro)

[always them:]

- I’ve run out of everything. My wife. The house. An adopted child. A successful job. Everything except a few bad habits I couldn’t get rid of.
- How did you get away with it?
- There was an accident. Everyone thought I was dead. I let them think so.
- There is no way to explain it, is there?
- Now I think I’m going to be a waiter in Gibraltar.
- Too obvious.
- Maybe a novelist in Cairo.
- Too romantic.
- How about a gunrunner?
- Too unlikely.
- As a matter of fact, I think I am one.
- Then it depends on which side you’re on.
- Yes. I just sold 5000 hand granades, 900 rifles and a great deal of ammunition to some people fighting a secret war in an obscure part of the world.
- I like it.
- You like that? You like. How about you?
- I’m a tourist become a bodyguard. I’m studying architecture.
- Studying architecture?
- Yeah.
- What kind of an impression do you think you make when you first come into a room?
- They look at me. Just think I’m all right. Nothing mysterious. You learn much more packing someone’s things.
- Yeah. It’s like listening in on a private phone conversation.


[sempre eles:]

- Acabei com tudo. Minha mulher. A casa. Uma criança adotada. Um trabalho de sucesso. Tudo menos uns péssimos hábitos dos quais não consegui me livrar.
- Como você conseguiu fazer tudo isso e escapar impune?
- Houve um acidente. Todos pensaram que eu estava morto. Deixei eles pensarem.
- Não tem como explicar, tem?
- Agora acho que vou ser um garçom em Gibraltar.
- Muito óbvio.
- Talvez um romancista no Cairo.
- Muito romântico.
- Que tal um traficante de armas?
- Muito pouco provável.
- Na verdade, acho que é isso que eu sou.
- Então depende de que lado você está.
- Sim. Acabo de vender 5000 granadas de mão, 900 rifles e uma quantidade considerável de munição para umas pessoas que estão lutando uma guerra secreta numa parte obscura do mundo.
- Gosto disso.
- Você gosta disso? Você gosta. E você?
- Sou uma turista transformada em guarda-costa. Estudo arquitetura.
- Estuda arquitetura?
- É.
- Que tipo de impressão você acha que causa quando entra pela primeira vez em um lugar?
- Eles olham pra mim. Pensam que eu sou normal. Nada de misterioso. Você aprende muito mais arrumando as malas de alguém.
- É. É como ouvir uma conversa telefônica particular.


Sangue, que não me deixou assistir a Profissão: repórter inteiro, apesar do Nicholson; que não me deixou ler o texto do Górki sobre o Tchékhov, apesar do Zaga; que não me deixou ir dormir, apesar de, por causa de. Sangue.
.
P.S.: E me lembrei do Rimbaud com essas referências a ser escritor no Cairo, traficante de armas... :)
(créditos a Antonioni, Peploe - assim mesmo, quase um "people", rs - e Wollen)

domingo, 10 de setembro de 2006

Yeah, it's OK.

[Forrest] You’re a momma, Jenny.
[Jenny] I’m a momma. His name is Forrest.
[Forrest] Like me.
[Jenny] I named him after his daddy.
[Forrest] He got a daddy named Forrest, too?
[Jenny] You’re his daddy, Forrest.
(Forrest frightened)
[Jenny] Hey, Forrest, look at me. Look at me, Forrest. There’s nothing you need to do, OK? You didn’t do anything wrong, OK? Isn’t he beautiful?
[Forrest] He’s the most beautiful thing I’ve ever seen. But... Is... Is he smart? Or is he...?
[Jenny] He’s very smart. He’s one of the smartest in his class. Yeah, it’s OK. Go talk to him.

[Forrest] Você é mãe, Jenny.
[Jenny] Eu sou mãe. O nome dele é Forrest.
[Forrest] Como eu.
[Jenny] Dei o nome do pai dele pra ele.
[Forrest] Ele tem um pai chamado Forrest também?
[Jenny] Você é o pai dele, Forrest.
(Forrest assustado)
[Jenny] Ei, Forrest, olhe pra mim. Olhe pra mim, Forrest. Você não precisa fazer nada, tá? Você não fez nada errado, tá? Ele não é bonito?
[Forrest] Ele é a coisa mais bonita que eu já vi. Mas... Ele... Ele é inteligente? Ou ele é...?
[Jenny] Ele é muito inteligente. É um dos mais inteligentes da turma dele. É, está tudo bem. Vá falar com ele.


Eu adoro cortar o cabelo. Bem curto. Me livrar de uns pedaços inúteis de mim, pelo menos dos que posso me livrar, já que não dá pra me livrar de todos sem me livrar também de mim, e ainda não cheguei a este ponto. Anyway, pra que ficar carregando peso à toa? Quase uma automutilação. E eu que nem desconfiava deste meu lado (físico – já o psicológico...) masoquista, eu que não sinto a menor atração por piercing, tatuagem e coisas afins. Mas já cogitei passar a zero um dia, rs. Pena que meu rosto não dá pra tanto.

E sempre me divirto com fantasias, as alheias, as minhas, as minhas, as alheias... Pena que já não dou pra tanto.
.
P.S.: Ainda quero muito falar sobre esse filme e a trilha sonora dele aqui. Ambos pertencem à minha lista de all-time favourites.
(créditos a Groom e Roth)

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Leviandadezinhas

duas locações na Studio 4: R$9,40 a pagar na devolução
três livrinhos na Machado de Assis: R$39,40 no Visa Electron
nove itens no Extra: R$18,91 no Visa Electron
salário caindo com um dia útil de antecedência: não tem preço
(pena que pra todo o resto tem)

Então, assisti a Eterno amor, motivada pelo idioma (sim, é verdade que essa é uma forma que encontrei para praticar as línguas estrangeiras que estudo), pelos atores (no mínimo uma meia dúzia de Amélie Poulain), pelo diretor (o Jeunet, claro) pelo enredo (romancezinho meio dramático ou dramazinho meio romanceado sobre amor e guerra ou sobre guerra e amor, que seja) e pelo título (Un long dimanche de fiançailles – “Um longo domingo de noivado”, ou algo assim, no original), mas não sofri o impacto que pensei que sofreria. Até vi de novo, com os comentários do diretor (aliás, preciso escrever um e-mail, sei lá pra que endereço, sobre a tal cena spielberguiana!...), mas, ainda assim, não me convenci. Algo na história (será que ler o livro ajuda?), algo na interpretação da Tautou (será que rever o filme ajuda?), não sei. Mas adorei o tal “peido de cão, alegria no coração” (me lembrei da Flayninha e da Popó, e da Lílis também!...) e os tais “se x acontecer, Manech está vivo” (me lembrei dos meus próprios “se x acontecer, y acontece”!...). Admiração pela Jodie Foster interpretando em francês e dó do Ticky (?) Holgado, o homem do retrato falante em Amélie. Comentários mais (im)pertinentes assim que eu conseguir rever o filme (pena que ainda não esteja num preço bom o suficiente pra eu comprar).

Minha cara*

e me pergunto se dá pra ver na minha cara, porque antes de eu chegar

eu quis cantar minha canção iluminada de sol soltei os panos sobre os mastros no ar soltei os tigres e os leões nos quintais mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer mandei fazer de puro aço luminoso um punhal para matar o meu amor e matei às cinco horas na avenida central mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer mandei plantar folhas de sonho no jardim do solar as folhas sabem procurar pelo sol e as raízes procurar, procurar mas as pessoas na sala de jantar essas pessoas da sala de jantar são as pessoas da sala de jantar mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer

e assim que me sentei

faça uma lista de grandes amigos quem você mais via há dez anos atrás quantos você ainda vê todo dia quantos você já não encontra mais faça uma lista dos sonhos que tinha quantos você desistiu de sonhar quantos amores jurados pra sempre quantos você conseguiu preservar onde você ainda se reconhece na foto passada ou no espelho de agora hoje é do jeito que achou que seria quantos amigos você jogou fora quantos mistérios que você sondava quantos você conseguiu entender quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você quantas mentiras você condenava quantas você teve que cometer quantas canções que você não cantava hoje assobia pra sobreviver quantos segredos que você guardava hoje são bobos ninguém quer saber quantas pessoas que você amava hoje acredita que amam você

com a penúltima dele (horrível no todo)

every single day I think of the times when you were still mine and I’m blue got to get away get you out of my mind I’m caught up in time and I’m blue I don’t miss all the fun that we had you were always around me where are you now I need you now if you were around it would be alright living on my own I know I’m to blame I’m locked in my chains and you’re free fallen like a stone I’m down on the ground I’m tied up and bound and you’re free I don’t miss all the fun that we had you were always around me where are you now I need you now if you were around it would be alright...

[todo santo dia penso nos momentos em que você ainda me pertencia e estou mal tenho que me mandar mandar você pra longe da minha mente estou metido no tempo e estou mal não sinto falta de como nos divertíamos você estava sempre perto de mim onde você está agora preciso de você agora se você estivesse por perto estaria tudo certo vivendo só sei que a culpa é minha estou trancado em minhas correntes e você está livre caído como uma pedra estou derrubado no chão estou amarrado e preso e você está livre não sinto falta de como nos divertíamos você estava sempre perto de mim onde você está agora preciso de você agora se você estivesse por perto estaria tudo certo...]

e a penúltima dela (horrível na rima em “ão”)

se a gente não tivesse feito tanta coisa se não tivesse dito tanta coisa se não tivesse inventado tanto podia ter vivido um amor grand hotel se a gente não fizesse tudo tão depressa se a gente não dissesse tudo tão depressa se não tivesse exagerado a dose podia ter vivido um grande amor um dia um caminhão atropelou a paixão sem teus carinhos e tua atenção o nosso amor se transformou em bom-dia qual o segredo da felicidade será preciso ficar só pra se viver qual o sentido da realidade será preciso ficar só pra se viver se a gente não dissesse tudo tão depressa se não fizesse tudo tão depressa se não tivesse exagerado a dose podia ter vivido um grande amor um dia um caminhão atropelou a paixão sem teus carinhos e tua atenção o nosso amor se transformou em bom-dia qual o segredo da felicidade será preciso ficar só pra se viver qual o sentido da realidade será preciso ficar só pra se viver só pra se viver...

e me pergunto o que dá pra ver na minha cara, porque antes de eu terminar

- Pode pedir mais um vinho, viu?
- Não quero dar trabalho pra vocês.
- O quê?
- Não quero incomodar o pessoal.
- Imagine, aqui fecha sempre às três, quatro...
- Mas hoje... Obrigada.
- Você mora aqui perto?
- Moro.
- Faz tempo?
- Faz... um ano e meio, acho.
- Conheço seu pai.
- Um japonês?
- Ele está sempre por aqui, mas você eu nunca vejo.
- Eu venho de vez em quando. Na última vez, vim com ele.
- Na semana passada?
- Há... umas duas semanas, acho.
- Ah, é. Mas fique à vontade, peça mais um.
- Não, obrigada...

e assim que me levantei

- Tá tudo bem com você?
- Tá. Boa noite.

com um gesto dele (o que você quer?)

como explicar a ausência de um real do tal couvert artístico e a bala toffee no lugar dos trinta centavos enviados para facilitar o troco?

e um gesto dele (o que você quer?)

como explicar a ausência de um real e o abalo na voz?

*ou De como são vistas as jovens que vão a bares desacompanhadas, ou Curtindo um bom som e um vinho ruim, ou Antes mal acompanhada aqui nesta mesa de bar do que só lá na minha cama (hum, título de uma possível comédia futura, rs), ou Nem caça, nem caçadora – só se for de mim (trocadilho horrível), ou De novo, ou Não perturbe, ou Perturbe, ou Vai saber
.
(incertezas: Caetano e Gil, Montenegro, Nazareth, Kid Abelha)

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

De casa

[anotações de aula de hoje:]

Thomas Mann: o tempo do discurso pauta (referência à ligação entre Mann e a música) o tempo da história – FILME Morte em Veneza: mudanças com relação ao texto, como a profissão do protagonista (de escritor a músico: homenagem de Luchino a Mahler, amigo de Mann – morte Mahler 1912; livro 1914) e as analepses, em que o maestro e seu assistente comentam o passado daquele – balanço do tempo; Luchino elimina os delírios da narrativa, substituindo-os por essas conversas; Mahler: não fazia concessões ao público (assim como o novelista do texto) – Luchino usa a 5ª sinfonia de Mahler, o adágio (tempo): ênfase tema musical à angústia personagem (algo que só o filme pode fazer)

[ótimas tiradas após a aula:]

- Ah, é que isso do Cortázar vem da graduação... Você lembra. Aliás, vem de antes da graduação. Antes da graduação eu já...
- Você não precisa me explicar. É Cortázar.
(...)
- Preciso ler tantos livros e ouvir tanta música pra poder acompanhar o seu nível...
- Música!... Eu só ouvi a 5ª sinfonia do Mahler.
(...)
- Eu tenho o filme.
- Pirata?
- Não! Original mesmo.
- A edição tal?
- Não sei...
- De capa de tal cor?
- Hum, acho que sim.
- Onde você encontrou?
- No submarino ou na americanas, não lembro.
- Mas já procurei em todo lugar, está esgotado faz tempo.
- Comprei faz uns meses já.
- Você teve sorte.
- Vou procurar e, se eu encontrar, dou de presente pra você.
- Você não vai achar, mas aceito o presente.

[anotações de outra aula de hoje:]

cinismo: indício de decadência moral (como o chama o narrador de A mulher do tenente francês) – um dos temas prediletos da literatura pós-moderna

dever e conveniência (definindo a Era Vitoriana) – As convenções sociais exerciam um domínio tirânico sobre as personagens. (cf. epígrafe William Burns? – p. 11 ou cap. 11?) :)

(OBS.: Machado de Assis é um dos autores favoritos dos pós-modernos – nos EUA, por exemplo)

(modernismo: ironia – narrador critica o outro, excluindo-se daquilo que critica; pós-modernismo: cinismo – narrador desconstrói algo no qual ele também se inclui)

[pensamentos idiotas durante a aula:]

Devo ser cínica, então. E vitoriana.

[lembranças de outra aula de hoje:]

Tente se desligar do fato de que era você.
(...)
Interação existe em qualquer lugar.

[um bom papo após a aula:]

- É esse Fusca aí. Ainda quer uma carona?
- Por que não? Em casa também tem um.
- Ele tem vinte anos.
- O nosso tem a minha idade, 24.
- É por isso que não dou carona a desconhecidos.
- Entendo...
(...)
- Não tenho isso de “estou com um problema, vou às compras”, não.
- Também não.
- Prefiro pagar terapia.
- (knowing smile)
- Terapia um dia acaba – a minha já acabou –, comprar é pra sempre.
- (wondering smile)

* a tal epígrafe (“Duty” – “Dever”, 1841, de A. H. CLOUGH, não a de William BARNES):

With the form conforming duly, [À forma obedecendo conforme se deve,]
Senseless what it meaneth truly, [Sem a consciência de seu verdadeiro significado,]
Go to church – the world require you, [Vai à igreja – é o que o mundo te exige,]
To balls – the world require you too, [A bailes – é o que o mundo te exige também,]
And marry – papa and mama desire you, [E casa-te – é o que papai e mamãe te desejam,]
And your sisters and schoolfellows do. [E tuas irmãs e colegas de escola fazem.]
.
(Zaga, Maria Lúcia e Gisele - [a]creditar ou não [a]creditar, eis a questão)

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

13 ºC, ou So blue

Frase do dia:

Há coisas que você faz apenas para ter certeza de que não deve fazê-las.

P.S.: Eu lembrei, e você nem.




*Do título: Sim, referência ao quadro, mas também à gíria para “triste” em inglês – engraçado pensar que, em português, é justamente o contrário (né, Beto?). Life – it’s all a matter of perspective, after all.

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

É fantástico

anotações de aula de três anos atrás:

Inglaterra – Byron (poesia, mas a figura do diabo é muito importante) – plena reabilitação de Satã – revolta, sedutor (não mais o monstro horroroso; o moço bonito – figura personagem muito semelhante aparência Byron, belíssimo – que vai salvar os homens, tirá-los de seus limites – para Byron, Deus é negativo)

o pouco que encontrei hoje:

So, we’ll go no more a-roving
So late into the night,
Though the heart be still as loving,
And the moon be still as bright
.

For the sword outwears its sheath,
And the soul wears out the breast,
And the heart must pause to breathe,
And Love itself have rest
.

Though the night was made for loving,
And the day returns too soon,
Yet we’ll go no more a-roving
By the light of the moon
.
.
(não tem Satã, mas é Byron)
.
tradução difícil pra mim, literal e aproximadamente seria: “Então, não nos aventuraremos mais / Tão tarde na noite, / Embora o coração seja ainda igualmente adorável / E a lua seja ainda igualmente brilhante. // Pois a espada desgasta sua bainha, / E a alma esgota o peito, / E o coração deve parar para respirar, / E o Amor mesmo descansar. // Embora a noite tenha sido feita para amar, / E o dia retorne muito cedo, / Ainda assim, não nos aventuraremos mais / À luz da lua.”

Pega, ladrão!

“Si pudiera robar, me robaría esta noche la luna... ¿para qué? No sé, creo que no me serviría de nada la luna en mi bolsa, pero tal vez así alguien vería que hace falta algo en el cielo (...).

Aos que estão perto, aos que estão longe, aos que estão perto e longe, aos que estão longe e perto (vontade de soltar um palavrão na sua cara, sim, na sua cara, Senhora Distância, se não o faço é por respeito ao raio de poesia que viajou tanto pra chegar até aqui) – dêem um pulinho no endereço acima, vale a pena. Eu “agarântio”, rs.

Valeu, Cris, pela permissão (que espero ser vitalícia, rs) da citação. Sabes bien que me encantan tus textos, aunque mi español... rs
.
P.S.: E me lembrei de uma dessas caminhadas noturnas de volta pra casa, a lua um sorriso perfeito no céu, o céu sorrindo pra mim.

domingo, 3 de setembro de 2006

Mais uma (mulher)

Do “A Note About the Author”, da versão simplificada de Jane Eyre pela Macmillan:

“(...) Her father was a clergyman. (...)”
[Seu pai era clérigo.]

“(...) Charlotte was not pretty and her eyes were weak. But Charlotte was clever and she had a strong character.”
[Charlotte não era bonita e seus olhos eram fracos. Mas Charlotte era inteligente e possuía uma personalidade forte.]

“(...) It was a bad school and many of the children became sick. (...)”
[Era uma escola ruim e muitas das crianças adoeciam.]

“(...) Later, she was a teacher at this school.”
[Mais tarde, ela foi professora nesta escola.]

“(...) But she was unhappy. She fell in love with a married man. (...)”
[Mas ela estava infeliz. Ela se apaixonara por um homem casado.]

“(...) But he became ill. He drank alcohol and he took drugs.”
[Mas ele adoeceu. Ele tomava bebidas alcóolicas e usava drogas.]

“(...) Then they were surprised. These good writers were women!”
[Então eles se surpreenderam. Estes bons escritores eram mulheres!]

“(...) Women did not often speak about their hopes and their thoughts. Women did not talk to men in this way!”
[Mulheres não falavam com freqüência sobre suas esperanças e seus pensamentos. Mulheres não falavam com homens deste jeito!]

“(...) She was now a famous author. People wanted to meet her. (...)”
[Agora ela era uma escritora famosa. As pessoas queriam conhecê-la.]

Sem comentários desta vez. Daqui a pouco, abro uma “seção biografias” nisto aqui, rs.

P.S.: As ambigüidades (a mesma escola? ele o tal homem casado?) são propositais, of course. Eliminá-las seria eliminar a metade da graça desta seleção não-tão-arbitrária-assim.