domingo, 7 de setembro de 2008

Isabela, ou Ensaio para a, ou Ensaio sobre a (surdez?)

The less you talk, the more you’re listened to.”

Eis o que encontro assim que abro meu e-mail, aqueles links aleatórios com que se ganha, sabe-se lá como, dinheiro na internet, de frase do dia a receita vegetariana.

Este veio bem a calhar – ou não, who knows?

A idéia parece boa, conselho sábio e tal, mas – se não se diz (quase) nada, o que há para ser ouvido? O silêncio, diriam, as entrelinhas, talvez. Quanto menos você fala, menos os outros têm para ouvir, diria eu. Ou: quanto menos você fala, mais você escuta, e com este eu concordo plenamente. É bom ouvir – quando há o que se ouvir, claro. A arte do saber escutar. Sabedoria, sim, aprender com os outros – ou dar corda pros outros se enforcarem no seu lugar, o que também é válido, e sábio, aliás.

Só que hoje acordei com vontade de falar – não muita, que esse meu caso de amor com as palavras também parece estar se esgotando, me esgotando, já, não sei. Olho pra elas, elas olham pra mim, e não sai disso – “Enfim, juntas. Aqui estou – chamou?”, “Ãhn-han.”, “E então?”, “Então o quê?”, “Como assim o quê? Chamou por quê?”, “Não sei, só chamei.”, “Ah, tá.” Então a gente se olha, se olha, se olha e logo alguém se cansa e desiste de tentar – o quê, nem nós sabemos. Brochante. Frustrante, sim. Triste, eu diria.

Mas temos, as palavras e eu, quero dizer, essa vontade de estar-junto, por mais que não saibamos bem pra quê, essa vontade de olhar, olhar, olhar, o que já deve ser alguma coisa. Já você e eu... Não sei.

Porque eu, eu jamais deixaria de acolher uma palavra sua – não foi assim, aliás, que te acolhi? Te peguei pelas pontas dos dedos, a boca dos textos, palavra, só depois o beijo – você se lembra, não lembra? Então. Eu jamais, e eis uma palavra que me dá medo, e ela sabe, “jamais”, mas que insiste em me rondar em alguns casos, neste, em especial, sabida ela – eu dizia que jamais, e há tantos: o telefone que não toca; o frio que, quando o telefone toca; o vento que, quando o telefone toca; o pé no chão que, quando o telefone toca; o estômago vazio que, quando o telefone toca; o sono que, quando o telefone toca; o horário que, quando o telefone toca; o trabalho que, quando o telefone toca; os outros que, quando o telefone toca; etc. – que, quando o telefone toca, ou não toca. Quanto a mim, que se danem o frio, o vento, o pé, a fome, o sono, a hora: o seu telefone tocaria, ou o meu eu não desligaria, com frio, vento, pé descalço, barriga vazia, olhos pesados, horário marcado e tudo, isso eu te garanto, eu, que, de resto, garanto tão pouco – quanto ao trabalho e aos outros, bem... Bem mais difícil de mandar se danar, mas ainda assim, ainda assim, eu, pra quem eles significam tanto, você sabe, não sabe? Não? E desde quando você se importa? Com o frio, o vento, o pé, a fome, o cansaço, a hora e etc., sim, quero dizer? Pois eu não sabia. Com o que você se importa, aliás? Sabe que eu não sei?

E cá estão as palavras, sim, blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá – tão carinhoso, ou não, que seja. Quase uma carta de amor – ou será que não? Já posso dizer que sou ridícula, então – já poeta, ou poetisa... Palavra que me agrada, sim, isso do isa, pitonisa, profetisa, sacerdotisa, papisa, as mulheres todas, belas – e inúteis, como as palavras, aliás.

Sabe de uma coisa? Acho que você me hipnopoetiza – and that’s it, que já falei too much.

(créditos: Quote of the day, Gmail, sabe-se lá quem – como se importasse... E não importa?)