sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Cantos para caixinhas sem música

Cheia de carinho e fúria, me ponho a remexer papéis. Reciclagem, rascunho, resumo da minha vida. Um canto para os primeiros, cantinho-preserve-a-natureza, um canto para os segundos, colocar-onde-tudo-isso, um canto para os terceiros, caixas-remodeladas-e-reaproveitadas. Centavos a ganhar, horas a perder. Consciência limpa por um lado e pesada por outro, me pergunto agora por que fazemos de limpo e pesado antônimos se poderíamos ter consciências leves ou sujas. Talvez mesmo leves e sujas. Ah, não, não vi Coisas Belas e Sujas, não ainda, mas preciso ver. Mesmo porque virei fã da Tautou, Amélie, claro, já clássico, mas também Bem Me Quer, Mal Me Quer, belas curiosidadezinhas. Mas o que importa é a conservação do meio-ambiente e da memória. Economizar recursos. Naturais, mentais, financeiros, exatamente nesta ordem. Quem me dera fazer meu pai compreender a gravidade de coisas simples. Torneira pingando por dias pode não significar muito para o bolso dele, embora deveria, já que não somos ricos, mas significa muito para o nosso planeta. Papel acumulado por anos pode não significar nada mais que tralha para ele, embora deveria, já que somos pai-e-filha, mas significa nada menos que tesouro para mim. Para o bem e para o mal, e talvez mesmo nem para o bem, nem para o mal, mas para algo além e/ou aquém, tanta coisa pequena gerando tanta coisa grande.

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi

ou

És grande, Zé Ninguém, quando cantas as antigas canções do teu povo ou danças ao som do acordeão, porque os cantos do povo são pacíficos, e são-no em todos os lugares do mundo.

(créditos: Oswald de Andrade – ei, Pessoal!... – e Wilhelm Reich – ei, Mulheres!...)