domingo, 22 de janeiro de 2006

I feel good

(carro) Thank you, Dad. (porque, claro, preciso de superproteção) Qualquer coisa, você pega um táxi lá também.

(ônibus) Thank you, Mr. Driver. (porque, claro, preciso de ajuda) Mas o importante é que nós chegamos.

(ônibus) Thank you, Another Mr. Driver. (porque, claro, preciso de auto-afirmação) Espera que já vou imprimir sua passagem.

(táxi) Thank you, Mr. Taxi Driver. (porque, claro, preciso de autoridade) Deixa eu ver... R$17,00.

(carro) Thank you, Mr. VIP. (porque, claro, preciso de simpatia) Pensei que fosse mais longe, porque você disse...

(e você, Primeira Mulher, saiba que pequena sou eu, você é gigante nos seus quase cinqüenta anos, seus dois filhos e suas três sacolas plásticas, o reflexo do meu rosto no vidro me denuncia, não tenho sacolas plásticas, nem filhos, nem quase cinqüenta anos, e me pergunta, lado a lado com o reflexo do seu rosto no vidro, o que terei quando nossos rostos, num futuro menos distante do que parece, lembremo-nos, objects in the mirror are closer than they appear, se confundirem)

(e você, Segunda Mulher, dei-lhe uma pista logo de saída, ainda assim você não conseguiu me reduzir ao meu tamanho real, tão encolhida em sua própria pequenez, sem saber que, sentadas lado a lado esperando cada uma o seu ônibus, compartilhamos muitos caminhos, talvez mesmo o do sangue que segue rumo ao sul e o do sol que, na minha pele, só se vê pelo avesso, algo de parentesco adivinhado, o segundo reconhecimento do dia, apesar dos repelir-se)

i get on the train and i just stand about now that i don’t think of you. i keep falling over, i keep passing out when i see a face like you. what am i (are we?) coming to? i'm gonna melt down.
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(créditos: a mim e ao radiohead)