segunda-feira, 11 de setembro de 2006

sem título

[a man and an old man:]

- My name is Robertson. I’ve been waiting for someone who hasn’t arrived.
- (laughs) These... (points towards children) I’ve seen so many of them grow up. Other people look at the children and they all imagine a new world. But me, when I watch them, I just see the same old tragedy begin all over again. They can’t get away from us. Is boring.
- Where did you learn to speak English?
- You want me to tell you my life?

- Yes.
- All right. One day, very far from here... (sound and scene fade)

[um homem e um homem velho:]

- Meu nome é Robertson. Estou esperando por alguém que não veio.
- (ri) Esses... (aponta para crianças) Vi tantos deles crescer. Os outros olham para as crianças e todos eles imaginam um novo mundo. Mas eu, quando as observo, vejo apenas a mesma velha tragédia começar tudo de novo. Elas não conseguem nos evitar. É chato.
- Onde você aprendeu a falar inglês?
- Quer que eu lhe conte a minha vida?

- Sim.
- Está bem. Um dia, muito longe daqui... (som e cena somem)

[a man and a recently widowed relatively young woman:]

- So, why don’t you try and forget all about it?
- Yeah. I know it’s stupid. I didn’t care at all before. Now that he’s dead, in some strange way I do. Perhaps I was wrong about him.
- If you try hard enough perhaps you can reinvent him.

(desired but anguished and soon broken kiss)

[um homem e uma mulher relativamente jovem recentemente viúva:]

- Então, por que você não tenta esquecer tudo isso?
- É. Eu sei que é burrice. Eu não me importava nem um pouco antes. Agora que ele está morto, me importo, de um jeito estranho. Talvez eu estivesse errada sobre ele.
- Se tentar bastante, talvez você consiga reinventá-lo.

(beijo desejado, mas angustiado e logo interrompido)

[a man – the one from the “a man and an old man” scene – and a woman:]

- Excuse me. I was trying to remember something.
- Is it important?
- No. (pause) What is it, do you know? I came in by accident.
- The man who built it was hit by a bus.
- Who was he?
- Gaudí. (pause) Come. (another room) He built this house for a corduroy manufacturer. They used this room for concerts. Wagner.
- Do you think he was crazy?
- How could you come in here by accident?
- I was escaping.
- Oh. From what?
- Well, I thought someone might be following me. Somebody who might recognise me.
- Why?
- I don’t know.
- Well, I can’t recognise you. Who are you?
- I used to be somebody else, but I traded him in. What about you?
- Well, I’m in Barcelona, I’m talking to someone who might be someone else, I was with those people but I think I’m going to see the other Gaudí buildings alone.
- All of them?
- They’re all good for hiding in. Depends on how much time you’ve got.
- I have to leave today. This afternoon.
- I hope you make it. People disappear every day.
- Every time they leave the room.

- Goodbye. (already leaving)

[um homem – aquele da cena “um homem e um homem velho” – e uma mulher:]

- Com licença. Estava tentando me lembrar de uma coisa.
- É importante?
- Não. (pausa) O que é isto, você sabe? Entrei por acaso.
- O homem que construiu isto foi atropelado por um ônibus.
- Quem ele era?
- Gaudí. (pausa) Venha. (outro aposento) Ele construiu esta casa para um fabricante de veludo [?]. Eles davam concertos nesta sala. Wagner.
- Você acha que ele era louco?
- Como foi que você entrou aqui por acaso?
- Eu estava fugindo.
- Oh. Do quê?
- Bem, pensei que alguém pudesse estar me seguindo. Alguém que talvez me reconheça.
- Por quê?
- Não sei.
- Bem, eu não reconheço você. Quem é você?
- Eu costumava ser outra pessoa, mas a troquei. E você?
- Bem, eu estou em Barcelona, falando com alguém que pode ser outra pessoa, estava com aquelas pessoas, mas acho que vou ver as outras construções de Gaudí sozinha.
- Todas?
- Todas são boas para se esconder nelas. Depende de quanto tempo você tem.
- Tenho que ir embora hoje. Esta tarde.
- Espero que consiga. Pessoas desaparecem todos os dias.
- Sempre que saem de um lugar.

- Adeus. (já saindo)

[the same man and the same woman:]

- How can I help you?
- How can you help me? It sounds crazy because I can’t explain it. (continues)

[o mesmo homem e a mesma mulher:]

- Como eu posso te ajudar?
- Como você pode me ajudar? Soa loucura porque não posso explicar. (continua)

[yet the same man and woman:]

- Can I ask you one question now?
- One you can, yes.
- Only one, always the same. What are you running away from?
- Turn your back to the front seat.

(she sees the path behind the car)

[ainda os mesmos homem e mulher:]

- Posso te fazer uma pergunta agora?
- Uma pode, sim.
- Só uma, sempre a mesma.
Do que você está fugindo?
- Vire de costas para o banco da frente.

(ela vê o caminho atrás do carro)

[always them:]

- I’ve run out of everything. My wife. The house. An adopted child. A successful job. Everything except a few bad habits I couldn’t get rid of.
- How did you get away with it?
- There was an accident. Everyone thought I was dead. I let them think so.
- There is no way to explain it, is there?
- Now I think I’m going to be a waiter in Gibraltar.
- Too obvious.
- Maybe a novelist in Cairo.
- Too romantic.
- How about a gunrunner?
- Too unlikely.
- As a matter of fact, I think I am one.
- Then it depends on which side you’re on.
- Yes. I just sold 5000 hand granades, 900 rifles and a great deal of ammunition to some people fighting a secret war in an obscure part of the world.
- I like it.
- You like that? You like. How about you?
- I’m a tourist become a bodyguard. I’m studying architecture.
- Studying architecture?
- Yeah.
- What kind of an impression do you think you make when you first come into a room?
- They look at me. Just think I’m all right. Nothing mysterious. You learn much more packing someone’s things.
- Yeah. It’s like listening in on a private phone conversation.


[sempre eles:]

- Acabei com tudo. Minha mulher. A casa. Uma criança adotada. Um trabalho de sucesso. Tudo menos uns péssimos hábitos dos quais não consegui me livrar.
- Como você conseguiu fazer tudo isso e escapar impune?
- Houve um acidente. Todos pensaram que eu estava morto. Deixei eles pensarem.
- Não tem como explicar, tem?
- Agora acho que vou ser um garçom em Gibraltar.
- Muito óbvio.
- Talvez um romancista no Cairo.
- Muito romântico.
- Que tal um traficante de armas?
- Muito pouco provável.
- Na verdade, acho que é isso que eu sou.
- Então depende de que lado você está.
- Sim. Acabo de vender 5000 granadas de mão, 900 rifles e uma quantidade considerável de munição para umas pessoas que estão lutando uma guerra secreta numa parte obscura do mundo.
- Gosto disso.
- Você gosta disso? Você gosta. E você?
- Sou uma turista transformada em guarda-costa. Estudo arquitetura.
- Estuda arquitetura?
- É.
- Que tipo de impressão você acha que causa quando entra pela primeira vez em um lugar?
- Eles olham pra mim. Pensam que eu sou normal. Nada de misterioso. Você aprende muito mais arrumando as malas de alguém.
- É. É como ouvir uma conversa telefônica particular.


Sangue, que não me deixou assistir a Profissão: repórter inteiro, apesar do Nicholson; que não me deixou ler o texto do Górki sobre o Tchékhov, apesar do Zaga; que não me deixou ir dormir, apesar de, por causa de. Sangue.
.
P.S.: E me lembrei do Rimbaud com essas referências a ser escritor no Cairo, traficante de armas... :)
(créditos a Antonioni, Peploe - assim mesmo, quase um "people", rs - e Wollen)

1 Comments:

Blogger Ela é said...

Acho que vc poderia colocar uma letra maior... nossa me custa um trabalho ler... beijos, muitos

14/9/06 01:32  

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