sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Minha cara*

e me pergunto se dá pra ver na minha cara, porque antes de eu chegar

eu quis cantar minha canção iluminada de sol soltei os panos sobre os mastros no ar soltei os tigres e os leões nos quintais mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer mandei fazer de puro aço luminoso um punhal para matar o meu amor e matei às cinco horas na avenida central mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer mandei plantar folhas de sonho no jardim do solar as folhas sabem procurar pelo sol e as raízes procurar, procurar mas as pessoas na sala de jantar essas pessoas da sala de jantar são as pessoas da sala de jantar mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer

e assim que me sentei

faça uma lista de grandes amigos quem você mais via há dez anos atrás quantos você ainda vê todo dia quantos você já não encontra mais faça uma lista dos sonhos que tinha quantos você desistiu de sonhar quantos amores jurados pra sempre quantos você conseguiu preservar onde você ainda se reconhece na foto passada ou no espelho de agora hoje é do jeito que achou que seria quantos amigos você jogou fora quantos mistérios que você sondava quantos você conseguiu entender quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você quantas mentiras você condenava quantas você teve que cometer quantas canções que você não cantava hoje assobia pra sobreviver quantos segredos que você guardava hoje são bobos ninguém quer saber quantas pessoas que você amava hoje acredita que amam você

com a penúltima dele (horrível no todo)

every single day I think of the times when you were still mine and I’m blue got to get away get you out of my mind I’m caught up in time and I’m blue I don’t miss all the fun that we had you were always around me where are you now I need you now if you were around it would be alright living on my own I know I’m to blame I’m locked in my chains and you’re free fallen like a stone I’m down on the ground I’m tied up and bound and you’re free I don’t miss all the fun that we had you were always around me where are you now I need you now if you were around it would be alright...

[todo santo dia penso nos momentos em que você ainda me pertencia e estou mal tenho que me mandar mandar você pra longe da minha mente estou metido no tempo e estou mal não sinto falta de como nos divertíamos você estava sempre perto de mim onde você está agora preciso de você agora se você estivesse por perto estaria tudo certo vivendo só sei que a culpa é minha estou trancado em minhas correntes e você está livre caído como uma pedra estou derrubado no chão estou amarrado e preso e você está livre não sinto falta de como nos divertíamos você estava sempre perto de mim onde você está agora preciso de você agora se você estivesse por perto estaria tudo certo...]

e a penúltima dela (horrível na rima em “ão”)

se a gente não tivesse feito tanta coisa se não tivesse dito tanta coisa se não tivesse inventado tanto podia ter vivido um amor grand hotel se a gente não fizesse tudo tão depressa se a gente não dissesse tudo tão depressa se não tivesse exagerado a dose podia ter vivido um grande amor um dia um caminhão atropelou a paixão sem teus carinhos e tua atenção o nosso amor se transformou em bom-dia qual o segredo da felicidade será preciso ficar só pra se viver qual o sentido da realidade será preciso ficar só pra se viver se a gente não dissesse tudo tão depressa se não fizesse tudo tão depressa se não tivesse exagerado a dose podia ter vivido um grande amor um dia um caminhão atropelou a paixão sem teus carinhos e tua atenção o nosso amor se transformou em bom-dia qual o segredo da felicidade será preciso ficar só pra se viver qual o sentido da realidade será preciso ficar só pra se viver só pra se viver...

e me pergunto o que dá pra ver na minha cara, porque antes de eu terminar

- Pode pedir mais um vinho, viu?
- Não quero dar trabalho pra vocês.
- O quê?
- Não quero incomodar o pessoal.
- Imagine, aqui fecha sempre às três, quatro...
- Mas hoje... Obrigada.
- Você mora aqui perto?
- Moro.
- Faz tempo?
- Faz... um ano e meio, acho.
- Conheço seu pai.
- Um japonês?
- Ele está sempre por aqui, mas você eu nunca vejo.
- Eu venho de vez em quando. Na última vez, vim com ele.
- Na semana passada?
- Há... umas duas semanas, acho.
- Ah, é. Mas fique à vontade, peça mais um.
- Não, obrigada...

e assim que me levantei

- Tá tudo bem com você?
- Tá. Boa noite.

com um gesto dele (o que você quer?)

como explicar a ausência de um real do tal couvert artístico e a bala toffee no lugar dos trinta centavos enviados para facilitar o troco?

e um gesto dele (o que você quer?)

como explicar a ausência de um real e o abalo na voz?

*ou De como são vistas as jovens que vão a bares desacompanhadas, ou Curtindo um bom som e um vinho ruim, ou Antes mal acompanhada aqui nesta mesa de bar do que só lá na minha cama (hum, título de uma possível comédia futura, rs), ou Nem caça, nem caçadora – só se for de mim (trocadilho horrível), ou De novo, ou Não perturbe, ou Perturbe, ou Vai saber
.
(incertezas: Caetano e Gil, Montenegro, Nazareth, Kid Abelha)

1 Comments:

Blogger Ela é said...

Bru, sente que estava falando com vc!!! Tivesse tomado mais um... lembro daquele dia no Bar azul... lembro, foi ótimo, msm porque depois a gente assitiu o Almodovar...
beijos

13/9/06 00:56  

Postar um comentário

<< Home