segunda-feira, 6 de março de 2006

Bença, Mestre!

Eu sabia que ele estaria lá. Nove anos atrás, meu melhor professor de matemática do colegial e um dos dois melhores da minha vida. Quase nove horas atrás, um dos melhores sambistas da cidade e, pelo visto, da região. Obrigada pela oportunidade da Fuvest e da Vunesp, Teroca. Obrigada pela oportunidade de sorrir muito e de dançar um pouquinho, Teroca.

Regra três - Vinicius de Moraes e Toquinho - Tantas você fez que ela cansou / Porque você, rapaz, / Abusou da regra três, / Onde menos vale mais / Da primeira vez ela chorou, / Mas resolveu ficar / É que os momentos felizes / Tinham deixado raízes no seu penar / Depois perdeu a esperança / Porque o perdão também cansa de perdoar / Tem sempre o dia em que a casa cai / Pois vai curtir seu deserto, vai, / Mas deixe a lâmpada acesa / Se algum dia a tristeza quiser entrar / E uma bebida por perto / Porque você pode estar certo que vai chorar...

Tempo de amor - Vinicius de Moraes e Baden Powell - Ah, bem melhor seria / Poder viver em paz / Sem ter que sofrer / Sem ter que chorar / Sem ter que querer / Sem ter que se dar / Mas tem que sofrer / Mas tem que chorar / Mas tem que querer / Pra poder amar / Ah, mundo enganador / Paz não quer mais dizer amor / Ah, não existe coisa mais triste que ter paz / E se arrepender, e se conformar / E se proteger de um amor a mais / O tempo de amor / É tempo de dor / O tempo de paz / Não faz nem desfaz / Ah, que não seja meu / O mundo onde o amor morreu...

Samba da bênção - Vinicius de Moraes e Baden Powell - ::cantado:: É melhor ser alegre que ser triste / Alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração / Mas pra fazer um samba com beleza / É preciso um bocado de tristeza / É preciso um bocado de tristeza / Senão, não se faz um samba, não / ::falado:: Senão, é como amar uma mulher só linda / E daí? Uma mulher tem que ter / Qualquer coisa além da beleza / Qualquer coisa de triste / Qualquer coisa que chora / Qualquer coisa que sente saudade / Um molejo de amor machucado / Uma beleza que vem da tristeza / De se saber mulher / Feita apenas para amar / Para sofrer pelo seu amor / E pra ser só perdão / ::cantado:: Fazer samba não é contar piada / Quem faz samba assim não é de nada / O bom samba é uma forma de oração / Porque o samba é a tristeza que balança / E a tristeza tem sempre uma esperança / A tristeza tem sempre uma esperança / De um dia não ser mais triste, não / Feito essa gente que anda por aí / Brincando com a vida / Cuidado, companheiro! / A vida é pra valer / E não se engane não, tem uma só / Duas mesmo que é bom / Ninguém vai me dizer que tem / Sem provar muito bem provado / Com certidão passada em cartório do céu / E assinado embaixo: Deus / E com firma reconhecida! / A vida não é de brincadeira, amigo / A vida é arte do encontro / Embora haja tanto desencontro pela vida / Há sempre uma mulher à sua espera / Com os olhos cheios de carinho e as mãos cheias de perdão / Ponha um pouco de amor na sua vida / Como no seu samba / Ponha um pouco de amor numa cadência / E vai ver que ninguém no mundo vence / A beleza que tem um samba, não / Porque o samba nasceu lá na Bahia / E se hoje ele é branco na poesia / Se hoje ele é branco na poesia / Ele é negro demais no coração / ::falado:: Eu, por exemplo, o capitão do mato, / Vinicius de Moraes, / Poeta e diplomata, / O branco mais preto do Brasil, / Na linha direta de Xangô, saravá! / A bênção, Senhora / A maior ialorixá da Bahia / Terra de Caymmi e João Gilberto / A bênção, Pixinguinha / Tu que choraste na flauta / Todas as minhas mágoas de amor / A bênção, Sinhô, a bênção, Cartola / A bênção, Ismael Silva / Sua bênção, Heitor dos Prazeres / A bênção, Nelson Cavaquinho / A bênção, Geraldo Pereira / A bênção, meu bom Cyro Monteiro / Você, sobrinho de Nonô / A bênção, Noel, sua bênção, Ary / A bênção, todos os grandes / Sambistas do Brasil / Branco, preto, mulato / Lindo como a pele macia de Oxum / A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim / Parceiro e amigo querido / Que já viajaste tantas canções comigo / E ainda há tantas por viajar / A bênção, Carlinhos Lyra / Parceirinho cem por cento / Você que une a ação ao sentimento / E ao pensamento, a bênção / A bênção, Baden Powell / Amigo novo, parceiro novo / Que fizeste este samba comigo / A bênção, amigo / A bênção, maestro Moacir Santos / Que não és um só, és tantos / Tantos como o meu Brasil de todos os santos / Inclusive meu São Sebastião / Saravá! A bênção, que eu vou partir / Eu vou ter que dizer adeus / ::cantado:: Ponha um pouco de amor numa cadência / E vai ver que ninguém no mundo vence / A beleza que tem um samba, não / Porque o samba nasceu lá na Bahia / E se hoje ele é branco na poesia / Se hoje ele é branco na poesia / Ele é negro demais no coração / Porque o samba nasceu lá na Bahia / E se hoje ele é branco na poesia / Se hoje ele é branco na poesia / Ele é negro demais no coração / Ele é negro demais no coração / Ele é negro demais no coração


(e me pergunto se você, Alexandre, que não está lendo este post, ainda tem a “carta de despedida” dele...)

(Cris, Cris!... Se você estivesse aqui...)