segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Introsficção

Aí você passa o dia inteiro se depilando, cortando as unhas, lixando as garras, se lixando, metaforicamente, claro, pra coisa e tal, domadora de animais trancados por fora e por dentro de você, chocolate com baunilha na pele, e a pitanga do perfume, comestível feito uma trufa, só uma mordidinha pra provar o sabor novo, mistura exótica essa, em oferta, que beleza, desembrulhada, ainda por cima, que o calor está de derreter qualquer um, mas é preciso uma marca qualquer, então o preto nas pálpebras, o invisível nos cílios, escolher o papel adequado, aquele longo cor de vinho barato e já desbotado, quem disse que quanto-mais-velho-melhor, de que você tanto gosta e que reforça o aroma de mil e uma noites (made (making love (making up))) in Paraguay, o detalhe do arremate no dar de ombros, se necessário, é sempre bom se prevenir, maus tempos estes, em que tudo é tão de repente, um dia você, Paulo, um dia, numa dessas madrugadas que me restam e em que resto eu, as pessoas falam mesmo, porque todo mundo sabe, ou acha que sabe, ou tem a impressão de que, mas não pode ser, deve ser só, é, isso, tão só que você se pega se perguntando se, de repente.
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et mon tapis volant, lui
[e meu tapete voador, ele]
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(descréditos: um certo eu no começo, um certo paulo no meio e um certo desejo no fim)