Horas muy buenas, ou Conspiração
O cartaz aí em cima serve mais pra enganar, mesmo. Não que eu tenha ido ao cinema só pra enganar, muitíssimo pelo contrário, se tem coisa que não faço é isto, e, por sinal, detesto quem o faz, mas é que não me considero apta a tecer comentário algum sobre o filme tendo-o visto assim, pensando no livro há pouco mal começado e tal. Poderia dizer que o som, poderia dizer que a chuva, poderia dizer que os animais, poderia dizer que os atores, em sua imensíssima maioria, mas prefiro me calar, ao menos até uma próxima vez, se é que haverá uma próxima vez, e até o final do romance. Romance sobre o qual o próprio autor escreveu, aliás:
(...) Quando eu terminei O Veneno da Madrugada, meu primeiro romance, dei os originais a vários amigos, desses que costumam ser muito críticos, e eles me disseram: “Parabéns, é boa, mas, claro, não é um grande livro.” Devem ter notado alguma coisa no meu rosto, porque se apressaram a acrescentar: “Nenhum primeiro romance é um grande romance.” Sofri uma desilusão tremenda. Pensava: “Agora sim, me danei. Sou incapaz de escrever alguma coisa melhor do que esse livro.” Senti que o meu mundo caía, e não conseguia parar de repetir: “Eu me danei, me danei...”.
O romance, no entanto, está me agradando (tanto que até já copiei um trecho dele por aqui, trecho encenado, aliás, com modificações que, sei lá, viu?) – o filme, por outro lado... Mas eu disse “sem comentários por enquanto”, e vou tentar cumprir o que disse, apesar de saber muito bem que já descumpri, que nas entrelinhas, como sempre, me entrego, coisa que até um cego pode ver, e que não vem ao caso aqui. E falando nisso, e citando o Gabo, me lembrei, pela segunda vez nesta atualização de hoje deste blog tosco, neste que é o segundo post do dia, porque o de amanhã é, na verdade, o de hoje, já de ontem, pelo horário, sendo bem precisa, e o de hoje é, na verdade, o de ontem, ou o de anteontem, precisão e tal, então, me lembrei de algo, alguém, sendo bem precisa, que – que absolutamente não deveria vir ao caso aqui, mas que vem, e como vem, e como sempre, e com muitíssima mais freqüência do que eu gostaria de que viesse, já que não vem de fato e tal, e talvez pra minha própria sorte, ainda que pro meu próprio azar...
De volta ao assunto, porque é o mesmo assunto, embora não pareça, foi legal encontrar o Caio no SESC ontem (que, como vocês sabem, não é ontem, mas tudo bem, façamos de conta que é), foi legal ir à Zoom com ele hoje (que, sim, como vocês sabem, etc.), foi legal reclamar, saudade tanta, do nosso casal de amigos que morreram pro mundo pra viver só um pro outro, a coisa mais estupidamente romântica que já vi, rs, foi legal falar sobre (in)definições sexuais e outros (pre)conceitos, foi legal parar num bar em que eu nunca tinha tido coragem de parar antes, rs, foi legal conversar com a “tiazinha” do carrinho de lanche, porque pra conversar só não importa se a gente é ovolactovegetariana ou não, e foi legal dividir uma cerveja depois de tanto tempo bebendo sozinha. Preciso fazer isto mais vezes, beber acompanhada, não sozinha, é claro, que sozinha eu já bebo quase sempre.
Ah, já ia me esquecendo de duas coisas não menos (talvez até mais, na verdade, mas quem sou eu pra julgar qualquer coisa?) importantes: a história que o João nos contou sobre o médico jovem lá de Ribeirão, esperança de um futuro melhor, e a conversa que minha mãe e eu tivemos neste fim-de-tarde, esperança de um futuro melhor?...
Mas isso de primeiros romances... Primeiros álbuns conheço vários que são grandes, sim, no sentido de grandiosos mesmo. Vou prestar mais atenção às estréias dos romancistas, então, depois lhes conto o que deduzi deste assunto. Só sei que, em geral, tudo que é primeiro, é primeiro, vocês sabem.
(créditos que estavam nas entrelinhas: Ruy Guerra e Gabriel García Márquez)
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